sábado, 12 de março de 2011

12/Março/2011, 23H - E agora? (uma perspectiva pessoal)

Que pensar das manifestações de hoje em todo o país? Acompanhei ao vivo a de Lisboa e, na TV, o que deu das outras.

O que é que me impressionou na de Lisboa?

- o número espantosos de manifestantes e outros simpatizantes. Não sei se seriam exactamente os 200.000 reivindicados - mas eram muitos!

- o facto de que havia pessoas de todas as gerações - dos 5 aos 75 via-se de tudo - uns por solidariedade; outros porque também estão "à rasca"...

- o facto de que, pese embora a tentativa de aproveitamento de algumas juventudes partidárias e de alguns arruaceiros - a manifestação se manteve, no essencial, apolítica e ordeira.

- o ter sido uma lufada de ar fresco num país que parece conformado a ser governado (e roubado) agora por uns, e depois pelos que com eles "alternam", todos vampiros e sanguessugas (e o Zeca ao longe - na minha imaginação - "eles comem tudo, eles comem tudo...")

O que não gostei:

- a falta de organização?

Via Facebook - e mesmo mantendo de fora os partidos e centrais sindicais - não teria sido possível obter o apoio de quem tenha organizado manifestações - por exemplo, antes do 25 de Abril - e pudesse dar umas dicas? e de bandas de garagem, que tenham aparelhagens sonoras decentes - em vez de megafones comprados no chinês? e de quem soubesse montar um palanque onde os organizadores, e quem mais quisesse, pudesse falar (ou cantar) aos presentes?

Não era possível ter pensado em meia dúzia de refrães e de cantigas, que se divulgassem, ouvissem e conhecessem antes, e que as pessoas pudessem gritar ou cantar em uníssono?

Assim, a manifestação acabou por ir desmobilizando progressivamente, por falta de continuidade, e o que se viu foi um montão de folhas A4 entregues aos organizadores (mas não teria sido possível isso ser enviado por e-mail e ficarem registos digitais, que seria mais fácil tratar?)

- o ar sorumbático e a "falta de alma" e de convicção e alegria dos manifestantes. Percebo o "enrascanso", mas não a falta de convicção. Afinal as pessoas foram a uma manifestação apenas para mostrar a sua tristeza ou para tentar mudar alguma coisa?

Que fazer de seguida?

Ninguém nasce ensinado e o "caminho faz-se caminhando". Portanto, acho indispensável:

- que os organizadores alarguem o círculo de decisão e oiçam outros com maior experiência - e não estou a falar de partidos ou sindicatos, mas de pessoas individuais e movimentos de cidadãos, que estão desafectadas do sistema político, da "democracia representativa" (em verdade, pseudo-democracia, pois a justiça não funciona, nem é independente , e a independência dos media deixa muito a desejar, para já não falar das "entidades reguladoras" disto e daquilo, que são apenas lugares para os boys já grandinhos, e não controlam nada) não havendo pois quem controle o sistema e a roubalheira que à sombra dele se faz, começando, desde logo, dos lugares mais altos);

- que se tirem lições do que correu bem e do que correu mal e se melhore o que possa ser melhorado;

- que se alargue o movimento a um "país à beira do abismo" em vez de uma "geração à rasca".

- que se organize outra vaga de manifestações em todo o país, num prazo o mais curto possível, mas respeitando as regras legais. De hoje a 8 dias, dia 19, se possível.

- que se mantenha o carácter apartidário e pacífico, mas se perceba que a intervenção é política, no sentido em que pretende denunciar e mudar o actual estado de coisas.

- que se comece a pensar em quais deverão ser os contornos ainda apenas preliminares e em esboço, da democracia participativa que se pretende, vendo, nomeadamente, que tipos de soluções estão a ser adoptadas em países que estão a sair da crise, fazendo-a recair sobre quem tem mais dinheiro e bens (cá ou em offshore), em vez de sobre quem tem menos.

Nota: Haveria muito mais a dizer mas, como disse antes, "o caminho faz-se caminhado". Em qualquer caso, há neste blog algumas outras reflexões sobre o nosso sistema político e económico, sobre que valeria a pena meditar. Fi-lo (ao blog) "just in case", mas talvez agora possa ser útil.

1 comentário:

  1. 2 comentários breves.

    01. Wanda, saudades do Brasil, estive nessa manif. dos cara-pintadas, ligeiramente arredado para o lado (não me dava jeito ser deportado por ser estrangeiro) vivia em Brasília na altura, nunca vi tamanha corrupção e ganância como no tempo do Collor. Foi uma alegria. Haverá de se repetir.

    02. Embora a frase acima tenha sido popularizada neste país pelo Vital Moreira, salvo erro, ela foi «cunhada» por um dos maiores poetas espanhóis do céculo passado: Antonio Machado.

    Sugertão de leitura sobre:

    http://www.monografias.com/trabajos902/antonio-machado-pueblo/antonio-machado-pueblo.shtml

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