sábado, 4 de junho de 2011

Hoje é dia de reflexão

Hoje é dia de reflexão. Os partidos não podem fazer campanha, nem as televisões, que bastante a têm feito. Mas nada impede que cada um reflicta. E eu reflicto melhor por escrito; e em diálogo, presencial ou não, com amigos, conhecidos e até com desconhecidos.

Como já referi noutros posts, este é o governo mais autoritário, despesista e fascista (internamente, na AP, toda a gente anda aterrorizada há muitos anos, para não ofender o "profeta" ou os seus acólitos) que existiu em Portugal desde o 25/Abril (muito pior do que o do Cavaco, que até aqui tinha esse lugar).

Com duas agravantes. Por um lado, este diz-se "socialista" (como o do Kadaffi) e, portanto, é considerado "de esquerda" pela comunicação social (que também controla ou influencia) quando é um governo de direita travestido. Para ter um governo de direita, prefiro um que se saiba que é de direita.

Este é um governo dirigido por um "aldrabão consumado" que mente com grande convicção (penso mesmo que isso deveria interessar ao domínio especializado da psiquiatria, mas, não sendo dessa área, não opino mais).

E que se meteu numa séria de trapalhadas, que me escuso de repetir, que em qualquer país civilizado deveriam (cada uma delas) ter conduzido a julgamento, e nunca foi absolvido de nenhuma, porque, ou prescreveram, ou a "justiça" não "encontrou provas suficientes" (escrevo justiça entre aspas, pois em Portugal não existe separação efectiva de poderes e o "poder judicial" faz o que o poder político ou económico lhe diz para fazer, com muito poucas - e honrosas - excepções).

E que conduziu o país à situação em que se encontra, com enriquecimento de muitos dos seus confrades, e de outros que souberam amaciar mãos estendidas daqueles, sem se preocuparem com os mais carenciados, que sofrem salários e pensões reduzidas e aumentos dos preços de tudo, e imensas PME a falir em massa (e tudo isto ainda vai piorar!), para pagar estradas que não se usam, contratos feitos ou renovados com empresas que, na altura ou depois, são "geridas" por amigos dos decisores que lhes deram as concessões, ou outros "amigos" de quem tem o poder - quando não é o decisor que depois aparece á frente da empresa a quem fez, em nome do Estado, condições leoninas (em favor delas, não do Estado).

Dito isto, a minha primeira reflexão é a esperança, que amanhã é que este PS seja punido pela situação catastrófica a que conduziu o país e tenha uma votação ridiculamente pequena.

Esta campanha foi ainda mais ridícula que as anteriores, pois embora nunca se discutam programas, mas apenas fait divers, neste caso, o Programa é o da troika-versão 2 (de que o aldrabão mor até há pouco se recusava a reconhecer que continha cláusulas que lá estão - na versão 2, mas não na versão 1). Portanto, entre os três maiores partidos discutir programas era impossível - o programa já foi escrito pelo troika (de que o FMI se mostrou, aliás, o mais brando - o que não deixa de ser curioso).

As eleições, dizia Marx, servem para "as classes dominadas escolherem os representantes das classes dominantes que os vão dirigir no próximo período". Penso que a situação fica mais clara se o PS tiver uma votação tão pequena que nem possa aspirar a condicionar o governo, de forma a que se arranje uma "carreira internacional dourada" ao "José" e apareça alguém de esquerda que dirija o PS nos próximos anos (se é que ainda lá há alguém de esquerda, do que duvido).

Outra reflexão que esta campanha permite diz respeito à "esquerda". Aquela esquerda (PCP) que, pese embora nunca ter denunciado o que se passou nos países do Goulag dito socialista ou comunista, nem o que se passa ainda nalguns, mostra algum respeito continuado, durante décadas, e genuíno pelos trabalhadores, parece que conseguirá manter os seus votos, o que é importante pois, o PCP talvez não, mas a maioria dos seus militantes e a quase totalidade dos seus votantes fazem por certo parte da solução e não do problema.

Quanto ao Bloco espero que se confirmem as piores expectativas e que perca deputados e força. A esquerda caviar, que "defende os trabalhadores" mas veste roupa de marca, e o seu supremo tele-evangelista (à americana, mas com o modesto título de "Coordenador", como convém) faz parte do problema e não da solução.

Sejamos claros: "o Prof. Louça" deve ser corrido como o seu par "Eng. José". E, depois disso, se verá se o BE faz parte da solução ou deve "dividir-se e dar de novo". Mas muitos dos seus militantes e a quase totalidade dos seus votantes fazem parte da solução - Louça, esse, e alguns outros, fazem parte do problema.

A evolução da globalização e da exploração global, por um lado, o aumento substancial da consciência reflexiva de muitos cidadãos, bem como as novas tecnologias (não em si, mas pelo que permitem ver, comunicar e perceber) impõem uma profunda mudança civilizacional.

Se a democracia partidária foi a forma adequada para o período pós-revolução industrial, hoje, os partidos são bandos de malfeitores, que existem para ajudar o poder económico e se integrarem nele transformando a res publica em res privada.

Exige-se hoje uma democracia participativa, de que começam a haver experiências nalguns países (a Islândia, por exemplo) e movimentos de apoio, ainda dispersos, em muitos outros.

E a primeira medida que se exige é mudar a constituição em dois pequenos pontos. (1) permitir que "grupos de cidadãos", sem o nome de partidos, se possam candidatar às eleições legislativas (como já podem às locais); (2) que grupos de cidadãos possam, não apenas fazer petições, mas tenham o poder de requerer referendos, locais ou nacionais, sobre questões controversas (como se faz na Suíça, por exemplo).

E exige-se que quem defende tal mudança se comprometa com uma reforma profunda do sistema, feita por forma não violenta - uma "revolução não violenta".

Para isso interessa que movimentos ou partidos fora do actual espectro político tenham lugares no Parlamento, o que só parece ser possível em Lisboa.

Se eu vivesse fora de Lisboa, votaria em qualquer partido que tivesse hipótese de roubar um deputado ao PS, sem me preocupar qual seria.

Votando em Lisboa, tenho o privilégio de poder fazer uma aposta mais clara (embora de risco) e esperar que muitos cidadãos pensem como eu. Na sua entrevista com o MEP (e o Dr. Rui Marques, dirigente deste - que daria um excelente candidato independente do PSD, ao lado do Nobre - não percebo porque é o Passos Coelho não se lembrou disso...), a Presidente do Partido Humanista, e cabeça de Lista por Lisboa (sempre tratada pelo entrevistador por Helena Magno, sem títulos - presumo que por imposição prévia da própria), além de ter dito coisas com que estou de acordo no essencial, questionada sobre qual seria a primeira medida que proporia se fosse eleita, respondeu: "alterar a Constituição para permitir que grupos de cidadãos independentes possam apresentar candidaturas em eleições legislativas" (confirmem aqui: http://visaohumanista.blogspot.com/ ) e com isto conquistou o meu voto - embora haja algumas medidas propostas de que discordo, o que não me preocupa nada, pois, vendo a entrevista e os sites do Movimento (também: http://www.movimentohumanista.com/ph/xpagina.php?tema=principal e http://www.internationalhumanistparty.org/ ) fiquei convencido que este movimento tem uma característica que não reconheço em muitos outros - a capacidade de aprender!)

Hoje é dia de reflexão diz-se. As TVs não podem hoje fazer o que fizeram (todas) ao longo da campanha e da pré-campanha - propaganda dos 5 partidos com assento parlamentar!

Mas, na vossa reflexão, não precisam de usar apenas o que já viram. Usem também o que podem descobrir na Internet. E a cabeça, já agora.