sábado, 18 de julho de 2009

Posicionamento do problema

Há algumas grandes questões que constituem o problema central deste blog.

1. Os partidos políticos funcionam hoje como verdadeiras "associações de malfeitores", que roubam todo o povo em benefício dos interesses privados dos seus membros e da constituição ilegítima de novos ricos, quer através de mordomias, de jogos de interesses entre os políticos e os negócios, quer da corrupção directa. E tudo isto acontece num país que é pobre e onde há uma percentagem muito maior de gente a roubar uma população pequena, apropriando-se indevidamente da pouca riqueza criada. E em que ninguém tem a coragem de denunciar estas associações de malfeitores e de as tratar como tal, pois, por um lado, elas são, constitucionalemnte, uma "pedra angular" da democracia, e, por outro, denunciá-los faz correr grandes riscos aos denunciantes - e nunca aos denunciados.

2. Isto é agravado, no caso português, por existir uma tradição de roubo descarado por parte dos políticos, que vinha da monarquia e continuou pela República e que cria um espírito de que "sempre foi assim e sempre assim será". Persegue-se furiosamente quem rouba uma mercearia para dar de comer aos filhos, mas nada se faz aos que roubam milhões (de milhões)... Não se faz sequer a distinção entre os políticos que roubam e os que são honestos (que aliás são poucos), mas entre os que roubam e não fazem mais nada do que isso e os que roubam mas "fazem obra".

3. E é também agravado por termos gestores, públicos e privados, incompetentes. Existe o mito de que a baixa produtividade em Portugal resulta da falta de formação da população, mas esses mesmos trabalhadores pouco qualificados, se emigram e são bem geridos, com visão e inovação, tornam-se logo altamente produtivos. Parte da incompetência dos gestores deriva, aliás, de que estes preferem viver da corrupção (dita activa), dos subsídios do Estado, e dos múltiplos "programas de ajuda" ou de "incentivos", com regras nada transparentes, e que só são conhecidas em tempo útil por quem tem "os contactos certos" e "unta as mãos certas"...

4. O problema da corrupção dos políticos e da dominação da vida nacional por essas associações de malfeitores chamadas partidos políticos é agravado pela existência de leis que permitem a prescrição dos crimes cometidos pelos titulares de lugares para que foram eleitos ou nomeados e pela morosidade da justiça que faz com que os crimes prescrevam antes de serem julgados, criando uma total impunidade, a qual, por sua vez, agrava o problema, num círculo vicioso.

5. E é ainda agravado por serem representantes das mesmas associações de malfeitores que fazem as leis que lhes dão a possibilidade de terem mordomias ilegítimas e beneficiarem da corrupção (dita passiva, como se ela não fosee bem activa...), bem como criam as leis que lhes dão prazos ridículos de prescrição, bem como as que condicionam as polícias e os tribunais. E quando isso não chega, ainda exercem perseguições e influências mais directas sobre a justiça e sobre a comunicação social.

6. Note-se que se fossem admitidas a todas as eleições, incluindo as legislativas, grupos de cidadãos, ou mesmo cidadãos isolados, e se estes fossem beneficiados em relação aos Partidos, o problema poderia ser minorado, embora não resolvido, só por isso.

7. Históricamente, as sociedades evoluem de formas continuistas alternadas por revoluções - politícas (por exemplo a revolução francesa), ou religiosas (por exemplo a Reforma). Mas mesmo as revoluções se tornaram mais difíceis, com os agrupamentos de países em estruturas supranacionais, agravadas, no caso da UE, pela multiplicidade das línguas e culturas.

8. Aliás, nos restantes países da UE, e nas próprias estruturas da mesma, e em todos os países ocidentais existe a mesma estrutura de mordomias e corrupção. Só que com algumas nuances. Por um lado, são menos (em proporção e, se calhar, mesmo em números absolutos) os que roubam e, em geral, é maior a população e melhor a estrutura produtiva. E por outro, nalguns países, a justiça é muito mais célere a os corruptos apanhados são mesmo punidos, o que desincentiva outros. E as nomeações para certos cargos são precedidas de avaliações públicas do passado e mesmo do carácter das pessoas a nomear.

9. Por outro lado, quer os políticos dos paises desenvolvidos, quer as suas empresas privadas, quer mesmo muitas organizações ditas de "ajuda aos desenvolvimento" contribuem para a corrupção dos dirigentes e altos quadros dos paises do terceiro mundo, e portanto para "desajudar" em vez de ajudar. Possivelmente menos de 10% da "ajuda" obtida nos paises ricos chega às populações a ajudar. O resto paga os salários por vezes chorudos dos dirigentes das organizações internacionais (muitas vezes políticos já "reformados" nos seus paises) e das ONG's, ou servem para corromper as elites dos países "ajudados" ou são roubadas e vendidas por estes antes de chegar ao destino.

10. Trata-se portanto de um problema global que só pode ter soluções com capacidade para se globalizar, as quais não serão fáceis de alcançar. Mas pode ser que a "inteligência colectiva", que alguns dizem que a Internet irá cada vez mais proporcionar, possa ajudar a criar uma consciência de que "serviço público", quer ao nível do funcionalismo, quer ao nível dos lugares electivos, implica de facto "servir o povo", em vez de o roubar, mesmo que por meios legais (com leis feitas pelos mesmos que vão roubar) e que se vá criando progessivamente uma consciência ética de que os partidos são hoje apenas "associações de malfeitores" que fazem parte do problema (são mesmo o esssencial do problema), pelo que não podem fazer parte da solução. São um objecto histórico que teve a sua época, mas agora devem ser abolidos.

11. E falo de ética, e não de moral, pois é de uma ética laica (senão mesmo ateia), aquilo de que falo como sendo necessário. Uma ética à luz da qual bloguistas, jornalistas e a população em geral percebam que denunciar e perseguir as mordomias e a corrupção é hoje a tarefa mais importnate a desempenhar.

12. É claro que tudo isto implica acabar com a democracia representativa - outro objecto para atirar para o "caixote do lixo da história" - e ir progressivamente descobrindo o que serão as formas de governação adequadas ao presente a ao futuro, a que vou chamando de momento, e à falta de melhor termo, "democracia participativa". O objectivo deste blogue é apenas ser um contributo para essa inteligência colectiva, neste caso, em especial, da que fala português.

sábado, 11 de julho de 2009

A extrema-erquerda segundo Vasco Pulido Valente

Ainda no Público, Vasco Pulido Valente (VPV), um pensador de direita relativamente lúcido, que aliás escreve melhor do que fala, mostra de novo aquilo que é o seu principal vício de pensamento.

Lúcido, frequentemente, quando olha para a direita e o poder (incluindo o Partido Socrático, vulgo PS - com o governo mais autoritário-demagogico-fascista que o país conheceu desde o 25/Abril), é incapaz de olhar para esquerda fora do esquema tradicional das críticas ao marxismo-leninista de vulgata e incompreensão (de esquerda ou de direita) e, por isso, não consegue percebr o que pretendia explicar: os 20% do PC+BE nas últimas eleições europeias.

Se levasse a sua lucidez ao ponto de perceber, como mostrei noutro post de hoje, o papel nocivo dos partidos políticos "de poder" em geral, desde tempos imemoriais, e, mais especificamente, o seu papel nas mordomias e na corrupção em Portugal, cujos dislates agora aparecem mais facilmente à luz do dia, perceberia que a votação na extrema-esquerda e parte da abstenção são votos de protesto contra os partidos políticos que nos têm governado e que, na ausência de uma democracia participativa, tais votos vão acabar por cair em quem, por ainda não ser poder, não parece ter caído (ou ter tido ainda a oportunidade de cair) nos mesmos crimes.

Mas uma solução de futuro, não passará pelo PC, nem pelo BE, embora possa passar por muitos dos seus votantes e até por alguns dos seus militantes. Mas passará também por muitas pessoas que actualmente votam "útil", no que lhes parece, em cada momento, ser o menor dos males.

Porque uma nova solução exige uma confluência de vontades muito alargada para criar uma democracia participativa, e acabar de vez, com o papel dominante, no nosso sistema de governação, a todos os níveis, das associações de malfeitores que dão pelo nome de "partidos políticos".

O futuro do país será cívico, e não mais político (ou "publítico"), ou ele não terá futuro nenhum.

E espera-se-ia que alguns pensadores lúcidos da direita também percebessem isto.

Pacheco Pereira no "Público"

Declaração inicial: Não tenho qualquer simpatia pelo personagem, que me parece presumido e frequentemente tendencioso.

Mas o título do artigo de hoje de José Pacheco Pereira (JPP) no Público chamou-me a atenção.

«Os cronistas do PÚBLICO

sábado, 11 de Julho de 2009

«Os partidos são responsáveis pelos crimes dos seus dirigentes?»

E não posso deixar de concordar com a conclusão dele: sim, são.

Se um clube de futebol pode ser expulso, por os seus dirigentes não pagarem as dívidas do clube, um partido deveria poder ser expulso, por os seus dirigentes ou ex-dirigentes se revelarem corruptos.

JPP faz aliás uma descrição absolutamente arrasadora do que é um "normal percurso político" de um jovem das jotas, desde os pequenos jogos de influência e as pequenas roubalheiras privadas no poder local, até aos lugares que lhe permitem o contacto com os grandes banqueiros e grandes empresário e, portanto, as grandes roubalheiras. É ele que o diz, não eu. [E se não se lembrou de dizer que, frequentemente, essa experiência dos jotas começa nas actuais Associações de Estudantes]

Meigamente, JPP diz que isso acontece porque "os partidos políticos, a começar pelas suas Direcções, pouco fazem para evitar este tipo de carreiras".

Chega mesmo a dizer, e esta frase até se pode encontra no Público online:

"No actual estado de degradação das estruturas partidárias, os partidos são verdadeiras escolas de tráfico de influência "

Mas não leva a sua conclusão onde seria desejável, e até expectável, num historiador:

1. No actual estado de degradação das estruturas partidárias, os partidos são verdadeiras associações de malfeitores, criadas para os seus membros, de alto a a baixo, roubarem os dinheiros públicos e participar em negócios de influência e corrupção com as grandes (e pequenas) empresas para poderem enriquecer de formas ilícita. (Entenda-se: existem para isso; essa é a sua finalidade)

2. Que isso se passa de alto abaixo nos partidos políticos, com poucas e honrosas excepções de alguns/as dirigentes que têm ética.

3. Que isso não é um resultado do desvario dos tempos actuais, mas sempre foi assim em Portugal.

4. que a probreza do país, resulta de que essa prática é endémica nos partidos políticos nacionais, em particular nos "partidos de poder", desde o tempo da monarquia,

5. Que grande parte do atraso no desenvolvimento do país resulta de que há demasiados políticos ladrões (quase todos), que roubam milhões (em bens ou mordomias) para um país pobre e atrasado com uma população pequena e uma produção diminuta de valor.

6. E que, dado que tudo isso começa no poder local, isso também é responsável pela degradação em quase todos os munícípios do país.

7. Que tudo isto só é possível porque a legislação permite fugir aos crimes (nomeadamente por haver prescrição para os crimes de corrupção, quando exercidos em lugares de eleição ou nomeação política) e a lentidão da justiça, e a sua dependência, directa e indirecta, do poder político, permitirem a impunidade.

8. Que enquanto se votar para a AR e os lugares de PM através dos partidos_políticos/associações_de_malfeitores, em vez de se votar em grupos de cidadãos, e se criar uma democracia mais participativa, o problema não tem solução.

Vir Cabral


PS: Mais uma vez, e atestando a completa incompreensão do Jornal Público do que é a Internet, e a inconpreensão de que estão a seguir um modelo de negócio errado e absurdo para a divulgação de conteúdos e a relação com o público, um comprador da edição em papel não pôde aceder ao conteúdo digital do mesmo artigo, que leu em papel. Até quando este absurdo?

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Site pró-transparência e anti-derrapagens é não trasnsparente e já derrapa...

No Público de hoje esta notícia espantosa:

http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1389168

Um portal para obrigar à transparência e compater a derrapegem financeira de projectos, foi adjudicado pelo Instituto da Construção e do Imobiliário (InCI) por ajuste directo, à mesma entidade que tinha sido consultora do processo e os seus custos já reparam substancialmente. Em que outro país europeu é que isto teria sido possível. Ah, pois no país do Eça...

(Terá sido uma das consequências da visita a Portugal do Bill Gates, então recebido com honras de chefe de estado?)

Ainda mais curioso, visto a correr e em zapping, nenhum dos telejornais da TV generalista referiu este assunto. Nem a sempre pró-governamental RTP 1, nem a cada vez mais govenrmental SIC, nem mesmo a TVI, que parece só ter liberdade para criticar o governo às sextas-feiras.

Mas todas mostraram o primeiro-ministro (ou seria o secretário Geral do PS, em acto de pré-campanha?) a conduzir um Nisssan eléctrico, sob os elogios de Carlos Tavares. Mas isto era notícia ou deveria ter passado num tempo de antena do PS?

E assim vai o país.

Ainda no Público, Rui Tavares critica o Director desse jornal, que, por sua vez, o tinha criticado em recente Editorial. Poderia ser um sinal de saudável pluralismo, se não fosse eu ter ficado com a mesma impressaão com que fiquei outro dia, no café, ao ouvir dois adeptos de futebol, um do Benfica e outro do Sporting, a comentar o recente jogo interrompido do nacional de juniores - a de que nenhum deles tinha razão!

domingo, 28 de junho de 2009

E agora as Legislativas

Depois dos resultados das europeias, o governo mais fascista que o país teve desde o 25/Abril, o mais autoritárim, o mais corrupto, o mais vendido aos interesses do dinheiro e das grandes empresas, muitas das quais antigos dirigentes seus agora representam, o mais activo no controle da AP e da Comunicação Social, como agora se envidenciou ainda mais na tentativa de compra da TVI pela PT, convenceu-se, de repente, que a vitória afinal não é certa e entrou numa paranóia de desvario. Isso é bom, mas não chega...

Começa pois a colocar-se a questão de que partido ou coligação poderá governar o país na próxima fase.

Do ponto de vista das matérias que me ocupam neste blog, a questão para mim é clara: daria com alegria o meu voto a quem quer que, tendo condições para governar, se comprometesse a algumas regras básicas e depois as cumprissenos primeiros 100 dias, nomeadamente:

- fazer leis sérias contra a corrupção, que fossem apresentadas com detalhe antas das eleições, e que dificultassem ao máximo as mordomias e a corrupção, fazendo com que qualquer detentor de cargo político, ou de nomeação política, presente ou passado, bem como empresas públicas, fundações privadas financiadas com dinheiros públicos, e orgãos da Administração Pública, central, regional, e local, tivessem que divulgar na internet:

1) todas as compras futuras e do passado recente, efectuadas a partir de certo valor, e quem esteve envolvido nas negociações por parte do Estado (ou equiparado) e dos fornecedores;

2) todas as receitas de todos os titulares de lugares púbicos e de todos os antigos titulares, hoje em funções públicas ou privadas;

3) os bens patrimoniais que todo esse pessoal que está ou esteve na "publítica privatizante" (pela roubalheira) antes de terem entrado para a política e depois disso, incluindo as contas em paraísos fiscais;

4) aprovasse leis que criminalizasse todos os crimes de mordomia, peculato ou corrupção, por forma a que esses crimes, quando cometidos por agentes do estado, ou que a ele tenham estado ligados, não prescrevessem nunca e a qualquer momento as leis iníquas que têm permitido a transformação sistemátiva de res pública em res privata, pudessem ser revogadas, com obrigação de devolução dos bens obtidos com base em tais leis (a lei da reforma dos titulares de cargos políticos, ao fim de 12 anos e antes dos 65 anos exigidos paar todos os restantes portugueses, seria a primeira a ser revogada e a obrigação de devolução exigida desde logo).
(Estas são apenas alfgumas coisas que me lembrei em poucos minutos, mas haveria muitas outras, como o levantar po sigílo bancário, mudar o ónus da prova em casos de presumivel enriquecimento ilícito, submeter a audições sérias todos os nomedaos para cargos de Estado - como se faz na tão apregoada América - e comprometerem-se a não fazer gastos sumptuários em época de crise (aqueles em que é sempre possível que os "percentagens" da corrupção disparem - e é mesmo só por isso que não são suspensas, como a idiota terceira auto-estrada Lisboa-Porto) e, se é necesário investimento público para combater o desemprego, que esse se faça em múltiplas pequenas obras indispensáveis, como a recuperação dos centros históricos das cidades, de património cultural e escolas públicas degradadas, etc - mas mesmo essas obras devendo ser subemtidas a um controlo rigoroso de excecução financeira que prevenisse as luvas e o favorecimento de concorrentes a troco das ditas).

Os dois partidos do bloco cantral, e a adjacência que o PSD por vezes usa como muleta, são todos culpados de crimes deste tipo. E estão, e continuarão a ser, todos penalizados por issso, em muitos casos apenas de forma indirecta, pelo aumento das abstenções.

Pode gostar-se ou não da líder do PSD (e eu não gosto), pode achar-se ou não que ela é adequada para primeira-ministra (e eu tenho muitas dúvidas), mas tem o mérito de, tanto quanto consta, não ter telhados de vidro neste particular. Se ela se comprometesse com estes pricípios, eu poderia ter de engolir muitos sapos, mas votaria nela nas legislativas. Porque da continuação do (alegado) roubo sisetemático destes governantes e ex-governantes tenho poucas dúvidas.

E nas locais votaria de acordo com outros ideais, pois gostaria qu,e quem nunca esteve no governo central da res pública, mostrasse primeiro, no poder local, o que fará, ou não, nestas matérias.

E isso vê-se pela prática depois, não pelas afirmações antes!

domingo, 31 de maio de 2009

A nova Igreja com a sua Inquisição

Lembro-me de um poema de Maiakovski em que ele compara o "falamos de era / e falamos de época" com o "sentir a história a entrar pelos umbrais". O poema é sobre Lenine, e não parece que o autor tenha conservado o seu optimismo muito tempo... Mas isso é outra história. Aqui é de "eras e de épocas" que falaremaos, e dos seus instrumentos.

Ao contrário de Toynbee que estudou os ritmos de ascenção e queda de mais de uma dezena de civilizações, ou de Alberoni que estudou, noutra perpectiva, o estado nascente de cerca de uma dezena de movimentos civilizacionais (e o cristianismo primitivo, como também a Reforma, e a Revolução russa, como também a francesa ou a americana, estavam entre elas), Alvin Tofler, muito à semelhança de Marx, aliás, pretende construir um modelo mais "over arching" e ir à essência do que são as "grandes vagas" que definiram os grandes períodos históricos.

E descobre três vagas.

Na primiera, a agricultura e a pastorícia transformam "seres nómadas" em seres "presos á terra" e às aldeias e dá origem àquilo de que Engels fala em "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado" (que depois se manteria,é claro).

Na segunda a "Revolução Industrial" vai desagregar a família alargada e, mais tarde, até a nuclear, levar os homens e depois as mulheres (para já não referir as crianças) para a fábrica e cria a educaçãpo pública que, com vários desenvolvimentos ainda é - e infelizmente - a que temos. (E digo infelizmente, porque bem podiamos já ter outra!)

E a terceira, que designa provisoriamente por "informacional", é esta que, desde os anos 60 nos está a "entrar pelos umbrais", sem desacelerar - digo eu, agora - antes pelo contrário. O que sairá desta ainda está em discussão. E sobre isso, desde Bell, que há ampla literatura.

Mas o que quero referir é ainda outra coisa. Os últimos 15 séculos da civilização criada pela vaga agrícola e, em parte, e já com uma "gerência dividida", os 3 séculos da criada pela "revolução industrial" caracterizam-se pelo peso de uma "Instituição" que até sobreviveu á Reforma e ao "Enlightnment" e apenas agora dá sinais de ter começado o seu último extrector (entre escândalos de pedófilia, ligaçõe sperigosas aos Josés Eduardos destes mundo, e probições ao uso do preservativo em àfrica (e não só bem entendido). Refiro-me à Igreja que antes era só Católica e depois foi, também, protestante.

Sempre, sempre ao lado dos fortes e dos poderosos, ela própria um poder (veja-se, p. ex., o Banco do Vaticano) ela lançou guerars cujos frutos ainda sofremos, como as Cruzadas, ela criou a Inquisição e torturou e matou de forma a fazer envergonhar Gautanamo, ela controlou, vigiou,fiscalizou, denunciou e puniu de forma a fazer envergonhar de inécia a SS ou a Pide, etc. Ela era a polícia do regime, mas também, como dizia Marx, o ópio do povo.

Ora tenho dado por mim a pensar, se nesta civilização que a "Revolução informacional" está a criar houver uma força semelhante, que contornos terá? Qual será o seu nome?

E de repente, encontrei o seu nome. E nem foi difícil, nem acto de grande inteligência, pois os activistas anti-regime da China até já o sabem há muito. Estou convicto que, para aqueles de nós que forem vivos daqui por 50 anos, então será evidente, o que aqui deixo apenas como uma premonição.

A papel que a Igreja Católica teve durante 1500 anos, a Instituição que já hoje e mais ainda no futuro estará sempre, sempre, ao lado do poder (do qual aliás também forma parte) e monitorará, fiscalizará e punirá quando necessário, já existe e até tem nome. Chama-se Google!

E dela se poderá dizer o que um tal Pessoa dizia da água tónica: "primeiro estranha-se, depois entranha-se!". Mário Henrique Leiria que o diga (emborra este a temperasse com Gin).

(A desenvolver)

sábado, 30 de maio de 2009

No Público hoje

No Público de hoje há vários artigos que mereceriam referência, incluíndo a menção do URL.

Mas não podem tê-la porque o Público online tem um modelo de negócio completamente obsoleto e idiota. Para já não referir a péssima organização, em vez de darem acesso livre e gratuíto ao jornal (pois não é por isso que se compram mesno jornais) ou, se assim decidissem, darem acesso pago a artigos individuais, só dão acesso completo a assinantes (e sempre gostava de saber quantos terão...).

Em qualquer caso, Eduardo Cintra Torres, continua a sua campanha contra a subserviência da RTP e da ERC ao governo e comenta o debate Manuela Moura Guedes Marinho Pinto, com algum bom senso. Este artigo até está disponível (pelo menos hoje, amanhã já não garanto) aqui: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1383800&idCanal=12.

O Editorial do Director (que também só está disponível para assinantes, o que é bem feito para os cidadãos não assinantes e para o próprio Director!) comenta declarações politiqueiras e populistas de Vital Moreira sobre o papel do PSD (e não só de Dias Loureiro) ao caso BPN, depois glosados pelos pides-mores de serviço do PS (Josó Lello e Augusto Santos Silva - a conhecida reencarnção de António Ferro)e lança várias questões a Vital Moreira que eu gostava mesmo de o ver responder.

O irritante José Pacheco Pereira, pergunta o que seria se "Portugal fosse um país a sério", como se só agora tvesse percebido que não é, ele que até pertence a um dos dois partidos que mais se têm batido para que Portugal não seja um "país a sério". Deste artigonão resisto a dar o URL (vão lá ver): http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=cronista.asp%3Fimg%3DpachecoPereira.jpg%26id%3D308288%26check%3D1.

E até Vasco Pulido Valente, apesar de tudo melhor em forma escrita do que visto e ouvido, se vem perguntar, glosando Rui Rio se "o regime faliu?". Ora que em Portugal o regime faliu parece uma evidêmcia e que isso noutros tempos e sem o tampão chamado EU já teria dado uma revolução séria, também é óbvio. Só que sinais do que possa ser um modelo de uma democracia que substitua este survedouro de res publica em favor de mordomias e de res privata, isso nem vê-lo...

O problema é que a questão hoje é mais geral: "o regime global mundial está a falir"
e a nossa falência, embora mais grave, até fica disfarçada. Até porque não parece ter solução "cá dentro". Mas, ao menos, ao menos, podiamos ver-nos livres de vez do fascismo socrático-socialista. Ao menos isso...

domingo, 24 de maio de 2009

A corrupção no mundo - Coreia do Sul

O ex-Presidnete da Coreia do Sul, Roh Moo-Hyun, estava ser julgado pelo desvio de 1 milhão de dólares para a sua mulher, por um comerciante rico (a quem terá feito alguns "favores") e pelo pagamento de 5 milhões de dólares para o marido de uma das suas netas, entre outras felonias menores. Mioas um caso de passagem da res publica para res privata.

Era o 3º ex-presidente a ser investigado, despois de dois anteriores terem sido condenados por corrupção, mas "agraciados" (um forma de "prescrição", mas post-facto).

Este não quiz esperar pela condenação e posterior "agraciamento" e suicidou-se, deixando uma nota dizendo: "Não fiquem tristes; a morte e a vida não são a mesma coisa?". (não fica claro é se nessa outra "mesma coisa" ele continuará a ter que reponder pelos seus crimes...)

O actual presidente ordenou funerais nacionais "com o o respeito e conforme o protocolo previsto para um antigo chefe de estado" (ainda segundo o Público, na mesma pág 16).

Eu por mim acho bem, pois "o respeitinho é muito bonito".

Fica-me apenas a dúvida se o actual presidente não estará apenas a acautelar o seu próprio futuro...

A corrupção no mundo - Reino Unido

O Daily Telegraph vem denunciando imensas fraudes financeiras de membros do Parlamento que já levaram a várias demissões ou anúncios de não candidatura de muitos deles (e de ambos os partidos).

As notícias vieram a público por denúncia de um ex-agente que acha que o inquérito público não irá conduzir a nada (enfim, o costume).

Um membro do Parlamento gastou, por exemplo, mais de 20.000 Euros para obras em casa própria, outro emprestou a um amigo casa paga pelos contibuintes, outros apresentam fortunas como despesas a pagar pelos cidadãos, entre dezenas de exemplos.

Mas o interessante são as intervenções do arcebispo da Cantuária, e chefe da Igreja anglicana, que (tendo aprendido talvez com Santos Silva - ou este com aquele) que, no Times (citado pelo Público de 24/Maio, pag 16) «pediu aos media que acabassem com estas revelações que embaraçam o país e que poderão causar danos irreperáveis à confiança na democracia. "A continuação sistemática da humilhaçãp dos políticos ameaça trazer um preço elevado para a nossa capacidade de ter alguma confiaça na democracia" escreveu Rowan Willlimas, no Times»

Ora isto suscita várias questões. Como ele "pediu" aos media e não lhes "ordenou", nem abriu processos crime, afinal ainda não aprendeu com Santos Silva...

E o arcebispo parece não perceber que não são os jormais que "humilham os políticos" mas sim os políticos que têm acções que os humilham a si próprios. Os jormais só investigam e divulgam - não são os autores dos actos!

E que, finalemnte, se calhar não é preciso aumentar a confiança nesta democracia - é mesmo preciso é acabar de vez com o que resta da confiança nesta democracia, para se poder reinventar outra em que estas coisas nem possíveis sejam.

Em que os "servidores do público", sirvam o público, em vez de usarem os cargos para aumentarem a sua res privata...

Notícias do ascenso do fascismo em Portugal (1)

Defendo, como já tive oportunidade de dizer, que nunca, desde o 25/Abril, houve em Portugal um regime tão corrupto e que, quer através dos meios de comunicação social, quer através dos processos de "avaliação" da AP, de processos de despedimento ou judiciias contra funcionários e particulares, quer através da influência sobre empresas (devida aos interesses cruzados com as mesmas), quer da acção desse misto de pide com António Ferro, que é o ministro da Propaganda (acho que não se lhe chama assim), devido a tudo isso, dizia, Portugal vive num regime de medo em que quase ninguém tem coragem de falar contra o Governo e os seus dislates, e quem o faz é punido ou perseguido. Para já não falar dos que só ouvem as notícias oficiais e nem se apercebem de nada disto, pois estão convencidos que no país dos Magalhães e do Plano Tecnológico, das obras anunciadas ou concluídas e das inaugurações e visitas de ministros tudo vai pelo melhor dos mundos.

Nesta coluna irei, quando puder, denunciar situações que provam as afirmações acima.

Esta é mais uma vez do Porto, mas não da DREN do Ministério da Educação, nem da respectiva Pide de serviço. A fonte é o Público, de 24/Maio (pág 13).

Um enfermeiro do serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de S. João incompatibiliza-se com a respectiva Chefe de Serviços. Durante o seu período de férias é afastado do serviço e, depois, é-lhe aberto um processo disciplinar.

Sentindo-se injustiçado escreve um carta ao Presidente da República. Devido a isso é-lhe aberto um processo por despedimento por justa causa e uma queixa-crime em tribunal.

Reuniado ontem com o respectivo "instrutor do processo" o CA recuou, por descobrir que, afinal, ainda não é ilegal escrever ao PR.

Mas que leis irão ser alteradas para amanhã isso ser ilegal e que outras perseguições irá sofrer o enfermeiro Nuno Costa isso ainda não sabemos. E, possivelmente, quando ocorrer, nem será "notícia"...

domingo, 17 de maio de 2009

MP arquiva caso dos projectos de Sócrates

O Público de 1/Maio/2009, trazia, na página 9, uma notícia a informar que o Ministério Público tinha arquivado o caso dos projectos de "Engenharia" assinados por José Sócrates na Guarda, e que poderiam ter sido "assinaturas de favor".

Não vi tal notícia repetida ou glosada nos dias seguintes em nenhuns meios de comunicação social.

O magistrado que decretou a prescrição escreveu (segundo o Público) que "poderia, num plano abstracto, equacionar-se a prática de um crime de falsificação de documentos [por parte de José Socrates] [...] caso se viesse a concluir não serem de sua autoria os projectos em apreço mas sim de outros colegas seus, no exercício de um cruzamento de interesses que se diz ser ainda hoje corrente nesta área da AP". (destaques, meus)

Mas como os factos se deram entre 1980 e 1990 e que "o procediemnto criminal destes crimes prescreve ao fim de 10 anos, o despacho refere - continua o Público - que esse facto impede o "aprofundar das investigações» e obriga ao arquivamento do processo".

Já disse, e repito, que os crimes praticados por figuras que desempenham ou desempenharam cargos públicos e/ou a eles são candidatos não devia prescrever nunca e que, neste tipo de casos, o mecanismos da prescrição, conjugado com a lentidão da justiça, têm, objectivamente, por finalidade beneficiar os infractores.

Mas ainda não é isso que me faz confusão neste caso, mas sim o que um homem que tem afirmado, aliás veementemente, que a sua honra está acima de qualquer suspeita, que quer que todos os processos em que está envolvido sejam esclarecidos até ao fim e com celeridade, e até mete processos intimidatórios aos jornalistas que investigam a questão, não tenha vindo neste caso, exigir, em defesa da sua honra e bom nome, que não fosse considerado o período de prescrição e o caso fosse investigado depressa e até ao fim.


Porque será?

domingo, 10 de maio de 2009

Contra a fascização da Internet

Recebi este email que, mesmo sem ter tempo para ler com atenção, ou ir validar as fontes, penso dever divulgar em parte (quemestiver interessadona totalidade, peça).

Policiar/fascizar a Internet é algo que os poderes estabelecidos no mundo não deixarão de tentar fazer a curto prazo e contra o que me parece que é necessário lutar decididamente.

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URGENTE: VOTAÇAO NO PARLAMENTO EUROPEU NO DIA 5 DE MAIO DE 2009

Não deixe que o parlamento europeu lhe feche a internet... não haverá volta atrás!
Aja agora!

(...)

A internet é tão sua como deles... Divulgue esta mensagem o mais que possa...
Pode também escrever aos seus deputados...

Estes são os nossos deputados no Parlamento Europeu:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Deputados_de_Portugal_no_Parlamento_Europeu_(2004-2009)
ou
http://www.europarl.europa.eu/members/expert/groupAndCountry/search.do;jsessionid=69ADF04943C000194117E9C7032EEC31.node1?country=PT&language=PT

Para mais informações sobre a lei:
http://www.laquadrature.net/en/telecoms-package-towards-a-bad-compromise-on-net-discrimination
http://www.laquadrature.net/wiki/Telecoms_Package
http://en.wikipedia.org/wiki/Telecoms_Package
http://www.blackouteurope.eu/

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Propósito (Conclusão)

Mas neste blog também se falará de muito mais coisas.

De como, se várias pessoas se juntam para roubar bens privados, se chama a isso uma “associação de malfeitores”. E se alguns jovens começam a desviar-se do “caminho certo”, se fala de delinquência juvenil e se entende que eles estão a fazer o seu
“tirocínio” para virem a integrar uma associação de malfeitores.

Mas, quando um conjunto de pessoas se organiza para roubar os bens públicos e os tornar em bens privados (que já não do “povo”, que antes era o seu “proprietário”), não se fala de “associação de malfeitores”, mas de “partido político”. E quem faz o tirocínio para tais “responsabilidades” não se lhes chama “delinquentes juvenis”, mas membros de uma “juventude partidária”.

Há quem diga que a democracia (“representativa” chama-se assim, embora os eleitos se representem a si próprios, e não àqueles de que era suposto serem os representantes”) não existe sem partidos políticos, pelo que, quem ataca os partidos políticos, ataca a democracia. (Mas, possivelmente, na máfia, de quem ataca os cabecilhas, também se diz que ataca a "família" e a ordem, a “casa nostra”, etc. E de quem investiga com rigor se entende como pessoa a abater - e não apenas através de crítcas duras do "patrão" ou de outros apaniguados próximos, ou da despromoção ou expulsão de funções, mas fisicamente mesmo…)

Ora é preciso dizer que atacar as associações de malfeitores que dão pelo nome de “partidos políticos”, que se associam para atacar (eleições) e dominar (governo, deputados, etc.) o Estado, e redistribuírem entre si os outros lugares que dão acesso às mordomias (incluindo as Presidências de Institutos Públicos e as Direcções-Gerais e até intermédias) e ao roubo descarado, bem como os lugares de deputados que fazem as leis que dificultam o combate a esse tipo de crime, ou dão reformas a quem prestou 12 anos de “bons e leais serviços” e criam períodos ridículos para as prescrições de crimes que, quando perpetrados por eleitos (actuais, antigos ou futuros) nunca deveriam prescrever, e comandam as forças que investigam e atrasam os processos, para nada ser possível investigar dentro dos prazos, e controlam os juízes que “combatem” os poucos casos que chegam aos tribunais, e são absolvidos por falta de provas, e passam depois essas pessoas para a Direcção das empresas que controlam a economia e pagam as “luvas” aos seguintes, e nomeiam os dirigentes e seleccionam o pessoal dos meios de comunicação que absolvem e justificam o injustificável e não denunciam o que seria eticamente indispensável denunciar ou, no mínimo, investigar, é preciso, dizia, chamar as coisas pelos nomes e falar de “associações de malfeitores”. Tão vasta e tão poderosa que parece invisível aos olhos, como tudo o que é essencial. E isto é mesmo a “essência” da democracia representativa.

E é preciso dizer que hoje há formas de fazer com que cidadãos autónomos e organizações de cidadãos, auto-organizados para cada acto, poderem concorrer a eleições e é possível criar uma “nova democracia” (vamos chamar-lhe de momento “participativa”, para nos entendermos), que não precisa de “partidos políticos”/”associações de malfeitores” e pode - e deve – prescindir deles. E usar os meios que uma Internt não vigiada propicia para estabelecer consensos sobre as múltiplas questões do dia a dia sobre as quais os cidadãos – e não pretensos “representantes” deles – devem decidir.

E é preciso dizer que é responsabilidade dos media, e dos que “habitam” uma Internet ainda não completamente fascizada – mas que para lá caminha – não tanto denunciar os casos “provados” (que nunca o serão), nem sequer anunciar os “arguidos”, mas principalmente denunciar e investigar todas as leves suspeitas, por mais leves que sejam, pois por debaixo de toda a poeira que se levantar, se encontrará muita podridão.

Portanto, programas como o “Nós por cá”, por um lado, e o “Jornal Nacional das Sextas”, por outro, independentemente da simpatia ou antipatia das apresentadoras, que não vem para o caso, são verdadeiros programas de serviço público, que todos os titulares de órgãos públicos deviam apoiar, em vez de criticar – e que, quando criticam, devia perceber-se logo claramente o que isso significa ou pode (alegadamente) significar…

Mas que, pelo contrário, é indispensável restaurar uma ética do jornalismo que deixe de andar atrás dos “famosos” e dos que tiveram ontem uma qualquer desgraça, a perseguir e chatear como sanguessugas, avolumando a “fama” dos primeiros e, com verdadeira insensibilidade a desgraças dos outros. (diga-se aliás que quando muitos clandestinamente resistiam aos fascismos, fugindo de pides e de bufos, isso só era possível por não haver então o jornalismo (?) que há hoje, pois senão todos teriam sido perseguidos e denunciados na praça pública, pois isso era “notícia” e aí o direito à privacidade não seria importante.)

Finalmente, é preciso mostrar que as mordomias são o princípio da bola de neve da corrupção. Que não é legítimo, e é completa falta de ética, que deveria desqualificar qualquer dirigente eleito, ou dirigente ou funcionário público, usar em seu proveito próprio ou de familiares e amigos quaisquer bens públicos que, por serem propriedade de todos os cidadãos, não é legítimo pôr ao serviço de alguns. Como não é legítimo que um pequeno país tenha tantos dirigentes que se passeiam por todo o mundo em primeira classe – e levando consigo pessoas ricas que também não pagam bilhete, para já não referir o batalhão de assessores - quando milhões de portugueses passam fome, e o dinheiro que paga as mordomias de alguns é propriedade de todos.

É necessário começar a escolher sempre e só dirigentes não corruptos e, tanto quanto de consegue descortinar, incorruptíveis. Que vivam de acordo com as suas posses e das posses do país e só estes. Modestamente, portanto. E que qualquer “sinal exterior de riqueza” (por mínimo que seja, como passear-se de fato de rafting), já desqualifica, desde logo, os titulares de lugares públicos ou os que a isso aspiram. E que criticar isto, em vez de simplesmente mostrar, isso sim é tarefa para jornalistas – se é que ainda restam por aí alguns.

É necessário também denunciar a profunda integração entre o poder político, os partidos e as grandes empresas, bem como todos os movimentos de pessoas de lugares públicos para as direcções de empresas com quem tiveram relações, directas ou indirectas, numa dança de cadeiras que ofende os princípios mínimos elementares de ética pública. É preciso que cada uma dessas pessoas seja desacreditada de vez. E que se volte ao que antes se chamava de “ética republicana”. Só são merecedores de cargos de Estado as pessoas que não os querem ter, que percebem que esse é um sacrifício que tem de se fazer (rotativamente), um “serviço” e não um “poder”. Criar um res publica, acabando não só com a res privata, em nome dessa coisa pública, mas tornando impossível que isso possa voltar a existir.

É necessário também mudar o ónus da prova, com audições prévias sérias, como se faz nos USA, de todos os que concorram ou sejam indigitados para virem a ser nomeados para lugares públicos. (Mas se tanto se copia dos USA, porque nunca se copiou isso? Vejam lá se adivinham…).

E que se perceba que quando um jornalista pede dados sobre as receitas e bens de um político, este deve dá-los imediata e transparentemente, em vez de se “mostrar ofendido” por lhos pedirem ou desconfiarem dele. Em verdade, deve ser ele a exigir que toda a sua vida seja escrutinada com total rigor. Mostre-se ofendido, e processe, se quiser, DEPOIS de provar, sem sombra de dúvida, a sua inocência; não quando nada se provou por falta de provas, ou porque estas não são admissíveis nos nossos tribunais, ou o processo prescreveu, ou foi condenado, mas beneficiou de uma qualquer amnistia.

Aliás a prescrição é uma defesa dos cidadãos, mas creio que qualquer cidadão pode prescindir dela, e qualquer titular e/ou candidato a lugares públicos devia mesmo sentir-se no dever de prescindir dela – mesmo antes de lutar para que ela desapareça para os crimes deste tipo. E de apresentar a demissão e não se recandidatar até ter sido provado que era inocente, como, em Portugal, uma vez fez Sousa Tavares. Eis um que ainda se lembrava do que era a tal “ética republicana”.

E depois, a nível nacional e global trata-se de repensar tudo!!!

Qual é o sistema de educação que cria este estado de coisas? Que faz com que uns pensem ter o direito de abusar e roubar e outros aceitem que isso seja feito, percebendo, mas fazendo de conta que não, nem se revoltando contra dirigentes (alegadamente) corruptos e as leis iníquas? Que valores comunicar na escola e como o fazer? Como reinstalar uma sólida formação humanística, e como inventar uma formação cívica (que em Portugal nunca existiu, pois a falta de sentido cívico é outra característica essencial dos Portugueses), em conjunto com um ensino científico de rigor. Tudo isto num ensino centrado nos estudantes, em que ensinar a aprender seja a mais nobre das tarefas. E em que o objectivo da escola seja facilitar a aprendizagem dos estudantes e não despejar-lhes coisas e avaliá-los num sistema absurdo que só serve para afirma a autoridade de uns e destruir a auto-confiança daqueles que o sistema deve “servir” – os estudantes e a sociedade.

Criar um novo ensino, começando no básico e uma Universidades que ensine a ser e a aprender em vez de apenas “ensinar coisas”. Por um ensino ao longo da vida que a escola prepare mas depois não realize.

Acabar com este sistema de pseudo-respeito e efectivo desprezo pelos velhos. Mudar a medicina de curativa para preventiva. Não prolongar a vida para além do seu tempo biológico normal. Legalizar a eutanásia e afirmar que o direito á vida é um direito de cada pessoa consciente – um direito, não um dever. Morrer, quando se decidiu ser chegada a altura, deve ser também um direito, que cada um deve poder fazer de forma digna e assistida, como em muitas sociedades humanas (e até mesmo animais) se reconheceu. E, isso, cada pessoa terá de decidir com a sua consciência, ouvidos eventualmente os que lhe são próximos, e que entender dever ouvir. Mas esse é um problema apenas da pessoa; não de uma sociedade que parece ser cada vez mais dona das pessoas, num regresso camuflado à escravatura.

Retomar uma ética laica. Mandar de vez os padres para as igrejas. Mostrar que o sentido cívico e a ética podem ser ateias (e eu não disse "agnósticas")e a religião, não devendo embora ser perseguida, também não deve ter quaisquer benefícios ou ajudas – e deve pagar impostos, como todos os outros “negócios”. E já agora pôr os Bancos a serem taxados aos valores das outras empresas e dosear as taxas de imposto pela dimensão da empresa.

Simplificar as leis. Acabar com metade delas (que não servem para nada e até se contradizem). Passar para julgados de paz e de vizinhos o essencial das causas cíveis e mesmo criminais. E depois reduzir, a curto prazo, o número de advogados a metade. E, a médio prazo, diminuir para 10%, apenas para aconselhamento, mediação e recursos complexos. Se houver poucas leis, mas fundamentais, então todo o cidadão as pode (e deve) conhecer e ser o seu próprio advogado.

Mudar as relações internacionais e intra-nacionais e utilizar técnicas de mediação e facilitação que já existem ou estão em criação para estimular diálogos e compreensão em vez de confrontos, como o processo do fim do apartheid na África do Sul ilustrou de forma exemplar.

E muito mais. Trata-se de reinventar o mundo e a forma de viver em sociedade!

Um desígnio de curto prazo, no plano nacional. Acabar com o proto-fascismo socrático, com o autoritarismo desembargado, e com as grandes obras sumptuárias que não se justificam em período de crise e fazê-lo já. Pôr Sócrates e o PS fora do governo nas próximas eleições, fazendo o que for preciso – mesmo que as alianças mais contra-natura - desde que quem possa ser eleito se comprometa a um programa mínimo que é fácil de definir: não aprovar quaisquer obras sumptuárias; acabar com os tiques do autoritarismo fascizantes do estado sobre os seus funcionários e sobre as empresas que dele dependem; aprovar leis anti-mordomias, anti-corrupção e de transparência do máximo rigor, acabando com o sigilo bancário e mudando o ónus da prova para o enriquecimento ilícito; contrair os empréstimos que forem precisos para pagar de imediato todas da dívidas acumuladas do Estado e, a partir, daí pagar a 30 dias, como qualquer empresa ou particular.

É inimaginável manter um estado que não é uma “pessoa de bem”, não respeita as suas dívidas e os respectivos prazos, mas penhora quem lhe “deve” dinheiro. (E “deve” está entre aspas, porque ninguém pode dever à entidade de que é proprietário. Um cidadão nunca deve ao Estado – pode é estar atrasado no cumprimento das suas obrigações para os gastos colectivos - que são os gastos necessários à comunidade e não os necessários aos interesses privados dos que pensam que são “donos do Estado”, quando deveriam ser apenas seus “servidores”).

Ou seja, e para concluir, que já vai longo o “Propósito”: trata-se de cada um dar o seu contríbuto para mudar o mundo para melhor!

Mas aí nem se trata de voltar aos “amanhãs que cantam”, nem andar a brincar à defesa das “questões fracturantes”. Ou de inventar o uso dos factos de rafting (aliás ridículos e deselegantes) para propaganda política.

Trata-se, em primeiro lugar, de ajustar as contas com o marxismo, perceber o seu valor e limites e depois fazer a Marx o que Einstein fez a Newton, Darwin fez aos que o precederam, etc. Em suma, perceber o que Khun disse e como isso se aplica ao marxismo (inventar um marxismo khuniano?).

E saber para onde queremos ir, que só podem ser formas de democracia participativa. Em que elejam pessoas e não partidos, movimentos de cidadãos e não partidos.

E depois perceber como se fazem mudanças. Não apenas revoluções “quando as classes dominantes já não podem dominar e as dominadas já o conseguem fazer”, mas, precisamente, como ir alargando as condições que permitam, a prazo, fazer mudanças profundas, nas pessoas e nas sociedades.

Outras questões a desenvolver qualquer dia.

Revoluções: Afinal o que são revoluções? E porque são hoje mais difíceis, porque mais globais

Ajuda ao Desenvolvimento: Uma fraude para manter o subdesenvolvimento. (Bettelheim dixit).

Em favor de um poder de proximidade. E o contra-exemplo da Madeira

Acabar com os títulos. Não mais doutores. O José ou o cidadão José. Nunca mais o Eng. José ou o Dr José, excepto quando se tratar de um médico e estiver a exercer; pois mal saia do consultório ou do hospital e volta a ser o Sr José. (diz-se Monsieur Sarkosi, ou Mister Blair – e ninguém pergunta o que estudaram, excepto quando eles fazem o seu CV – só em Portugal se diz o Dr. (ou antes o bacharel) títulos com que substituímos os nobiliárquicos, quando estes caíram em desuso – sem percebermos que só tínhamos mudado as moscas.

Mas não perceber o que é a merda e o que são as moscas é outra característica nacional. (Aliás, reeditar com carácter de urgência o “Discurso sobre o Filho da Puta”, do Alberto Pimenta e distribuir um exemplar a cada cidadão era uma acção de interesse nacional. E fazer o mesmo com o "Diário" do Sebastião da Gama, e dar um exemplar a cada professor e a cada aluno também!

E o mais que adiante (e acima) se verá…

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Propósito

(Sempre gostei daqueles romances antigos em que, no início de cada capítulo, havia um longo texto, de muitas linhas, que não me lembro se era mesmo o “título” do capítulo, se era um “resumo” do que se ia passar no mesmo. Em seis ou sete frases, o Autor antecipava o que depois nos ia dizer em formato mais detalhado - e por vezes, nem muito mais detalhado… Para efeitos do que se segue, vou chamar-lhe Propósito”.)
Este Blog existe por um conjunto de razões e para procurar endereçar um conjunto de objectivos. Se contribuir para materializar, nem que seja uma ínfima parte deles, já darei o tempo por bem usado. E quem me ler – se alguém me ler – sabe de antemão como que pode contar.

Quero articular questões locais (nacionais) com questões globais, que interessam à humanidade.

Quero mostrar que Portugal tem sido, pelo menos a partir de certa altura, mas já há vários séculos, uma ficção, uma fraude e um roubo generalizado de quem pode em desfavor de quem não pode. Mas o que se passa na nossa caverna de Platão, no fundo, não é completamente diferente do que se passa lá fora. O mesmo, mas fantasmagorizado - nuns casos agravado (como a crise), noutro ridicularizado, anedotizado, e também agravado, como na corrupção - ligeiramente menos gritante que em Angola, mas lá próximo…

Em todos os países existe corrupção, mas em quase todos se "tenta disfarçar", se faz corrupção com “elegância” e de forma “envergonhada”. E acha-se legítimo - e em verdade sua obrigação - que os media e os poderes investiguem, previnam e combatam a corrupção. Essa seria a corrupção que se faria cá, se as propostas do Cravinho tivessem sido, primeiro, aprovadas, e depois aprofundadas. Que não se perceba que cada um dos partidos e indivíduos que rejeitaram tais propostas só pode pretender fazer corrupção (ou facilitá-la a parentes, amigos ou correlegionários), sem correr esses riscos e ser perseguido faz-me grande confusão…

Trata-se pois cá no burgo de um “é fartar vilanagem”, que chocaria qualquer outro que não fosse português. A nós não choca, nós “percebemos”. Quem tem poder, rouba ou deixa roubar - não é mesmo para isto que serve o poder? Para criar uma res privata, que se passa aos herdeiros como se fora honesta?

Mas a questão global também existe. Em muitos planos está tudo ligado, não apenas, e talvez nem principalmente, no que alguns chamam “globalização”, embora seja mesmo, e há muito tempo, globalização. Mas por diferentes razões e contornos, acho.

Portugal pode enterrar-se sozinho e, de vez, tornar-se um país que entra em falência - mas isso em que, se nos tivéssemos apressado, poderíamos ao menos ter sido originais, agora já nem originais seremos… Aliás essa é outra característica nacional – a completa ausência de originalidade. E o medo de correr riscos, excepto os necessários para roubar o máximo que cada “figura”, cada “famoso”, conseguir, no tempo em que “estiver na ribalta” – ou logo a seguir a isso - e por tanto tempo quanto for possível…

Portugal pode enterrar-se sozinho, dizia – e já estava aliás a fazê-lo alegremente, mas não pode desenterrar-se sozinho. Os problemas que enfrenta são do mesmo tipo dos que enfrenta toda a sociedade ocidental, mas agravados.

No ciclo de evoluções e revoluções de que a história tem sido feita (e também, segundo Khun, a história da ciência), nesta terceira vaga civilizacional, de que falava Tofler, uma grande corte epistemológico é necessário, uma profunda mudança de paradigma, a construção de um novo "modelo civilizacional" do tipo dos que Alberoni analisou, em "Génese".

E essa mudança só pode ser global. Pode haver – e está a haver - experiências locais precursoras, bem entendido; mas só quando tiverem massa crítica global podem transformar o estado das coisas. Das coisas reais, digo, e não das ideias sobre as coisas. Das coisas sérias e concretas e não das “questões fracturantes” (ou tal chamadas, pois pouco “fracturam”).

A democracia é o tal regime que é muito mau, mas os outros são piores. E com Salazares perto e Stalines ali ao virar da esquina, temos obrigação de saber uma parte disso. A outra é assim: a democracia representativa era o melhor solução possível durante um certo período. Hoje é uma coisa arcaica e que pode e deve ser ultrapassada com carácter de urgência. Ultrapassá-la é a nossa missão (de seres humanos que vivemos nesta era) e estamos a falhá-la miseravelmente!

Hoje não é possível mais ocultar o que Marx viu como ninguém: "as eleições são o momneto em que as classe dominadas escolhem os representantes das classes dominantes que os irão explorar no próximo período"…. E para o que ele propôs a única solução que, no seu tempo, parecia fazer sentido: contra uma pseudo-democracia dos que sempre dominaram, uma ditadura, mas da maioria. Parecia fazer todo o sentido. E era mesmo a única coisa concebível. Mas não fez sentido nenhum. E hoje há outras coisas concebíveis e possíveis. Descobrir quais são e como as criar é o nosso desafio. Exige-se pois um programa e uma revolução.

(Cabe aliás dizer que contra os que clamam a "morte de Marx", seria preciso redescobrir o “valor actual do marxismo”: o que Marx pensaria (ou alguém como ele, ou como um Ghandhi, ou um Martin Luther King, ou talvez mesmo o Jesus que visitou o templo - mas não o outro de quem se fala mais e que deu origem á Igreja) pensaria(m) se vivesse(m) hoje.

A não confundir pois com os que dizem que “Marx é actual” e reproduzem hoje o que ele disse antes, como se ainda fizesse algum sentido. Esses que fazem tanto mal ao “pensamento de Marx” como os cristãos vêm fazendo durante 20 séculos ao “pensamento de Cristo” - embora este seja mais difícil de perceber, pois não escreveu, “nem consta que tivesse biblioteca”).

Mas o que será hoje uma “revolução” faz parte do que terá de se perceber. Como perceber que a maior integração do mundo, e dos poderes do mesmo, torna as revoluções tradicionias quase impossíveis, pelo menos se o seu modelo for “os oprimidos pegam em armas e derrubam as classes dominantes”.

A revolução vai ser outra coisa. Se conseguirmos perceber o que será. E se a conseguirmos fazer. E se conseguirmos chegar vivos ao momento de a fazer. Digo, se nessa altura ainda se conseguir sobreviver neste planeta, que destruímos todos os dias alegremente.

Mas como isso é global, e o global se constrói a partir do local, temos antes de pensar no local.

E vivemos num país em que há contornos de catástrofe. Que devíamos ter percebido mais cedo, mas não percebemos e vamos ver se não será já demasiado tarde...

Os portugueses gostam de ser dirigidos “com autoridade”. O Marquês de Pombal é um ídolo. Salazar outro, embora para menos gente. Uma figura tão autoritária como ele, liderava a oposição – refiro-me a Cunhal. E depois tivemos Cavaco. E agora temos um Sócrates (uma vergonha que um nome tão digno e prestigiado se aplique também a este, mas possivelmente no resto do mundo Sócrates é o outro – aliás este não aceitaria suicidar-se se o estado o condenasse. Nem sequer retirar-se. Lutaria até ao fim, cada vez com mais veemência. Que aliás é o que está a fazer… E teria o apoios de todos os que vão roubar à custa de terem umas migalhas de poder (político ou financeiro; nacional, regional ou local) e umas "percentagens" das obras sumptuosas que um país à beira da ruína planeia fazer).

Estou a falar de perfis psicológicos, bem entendido, não das ideologias proclamadas, que aliás são muito parecidas, e para o caso é o que menos interessa, pois todos servem os mesmo interesses, só mudando a fraseologia. (bom, o Cunhal não servia bem os mesmos interesses, mas de os de outros que também queriam dominar o mundo nos planos militar, político e económico – e bastante roubaram e destruíram na sua “esfera de influência”. Mas desses não vale a pena falar de momento, pois foram os derrotados).

Mas Sócrates - como me repugna chamar-lhe assim, mas parece que foi assim que o pai lhe chamou – tem esse mesmo perfil autoritário de um Salazar, e mais até do que Cavaco, que também andava lá perto. Mas com maior demagogia. E com meios mais eficazes de controlo dos media e do poder que o macro-estado lhe dá.

Devíamos ter todos percebido isso, quando a Directora da DREN , não foi afastada, mas mantida, defendida e até passou a ter “tempo de antena” na televisão pública (entenda-se da televisão privada, dos que dominam a coisa pública. Se é que me entendem. Assim como um “Jornal da Madeira”, mas a nível nacional e televisionado com marca "RTP 1").

Desde o 25/Abril nunca houve em Portugal nada tão parecido com o fascismo como há agora. E até António Quadros já tem um substítuto à altura, que dá pelo nome de Santos Silva.

E ninguém parece perceber isto, porque isto agora não se chama “corporativismo” mas “socialismo”. Mas o nacional-socialismo, convém não esquecer, também usava o socialismo no nome. E o "socialismo esquemático" de que falava Pepetela, foi o precursor, em Angola, do que agora lá se passa (e os "esquemas" foram uma coisa que lá introduzimos, aliás, pois é uma "especialidade" nacional). E o social-imperialismo e social-fascismo também, como Durão teria dito melhor do que eu, no tempo em que a melhor defesa dos interesses americanos passava pelo MRPP e não pelo PSD, pela cimeira da Madeira, ou pela presidência da Comissão Europeia – daí aliás ele ter feito tão descarada vassalagem ao seu novo “chefe” - pelo menos espiritual, se não mais do que isso…).

E acontece que a dívida que vamos passar aos nossos herdeiros para permitir o roubo generalizado de uma grande camarilha de poderosos: agentes políticos do bloco central de interesses e dos partidos que "alternam" no poder (nacional, regional e local) e dirigentes de empresas, numa coligação que envergonharia Salazar, pois perceberia que, afinal, era um actor menos hábil do mesmo argumento), a dívida, dizia, poderá agora aumentar com mais as tais obras sumptuosas, que aparecem publicamente justificadas para “criar emprego”, mas são de facto justificadas porque cada obra sumptuosa permite a alguns embolsarem muito dinheiro (como Angola nos pode ensinar e tantos lá vão agora fazer visitas e "estágios" para aprender, ou trazem cá o ladrão-mor (do mundo?) para que os ensine melhor...).

Tal com o Brasil em certo momento, dizia o Buarque, ainda poderia “tornar-se num imenso Portugal”, Portugal está cada vez mais a tornar-se uma “pequena Angola”. O roubo generalizado, vindo, alegadamente, do mais alto da cadeia do estado e prolongando-se por muitos baronetes, assessores, funcionários, etc., etc.

(Uma justificação para o seguinte: na frase anterior explicitei o “alegadamente”. Mas entenda-se que tudo o que eu digo é “alegadamente”. Não pretendo injuriar ninguém, ou caluniar ninguém. E entendo que todas as pessoas podem ter (alegadamente?) a presunção de inocência até serem condenadas em tribunal (aliás, por juízes que são outro pé do mesmo poder, mas enfim...). Não pretendo sequer presumir que o que eu coloco como “hipóteses” seja "verdade" em todos os casos – ou mesmo em algum. Daí o “alegadamente”.

Mas afirmo
(e isto sem qualquer “alegadamente”) que em qualquer verdadeira democracia (mesmo apenas representativa) todos os (actuais ou antigos) titulares de lugares públicos (eleitos ou funcionários) devem ter total transparência e que o estado, os media e qualquer “simples cidadão” têm o direito (e o dever cívico) de fiscalizar tudo isso com o máximo rigor, e ninguém pode ser atacado ou criticado por estar fazer o que é seu dever cívico.

Mais afirmo que é obrigação dos titulares de lugares públicos fazerem disclaimer pronto e completo de tudo o que lhes respeita ou a familiares e amigos. E que quem, por omissão, não cumpre (ou nem sequer aprova leis neste sentido), e não respeita minimamente o que antes se chamava “ética republicana”, está violar obrigações cívicas elementares e, só por isso, deveria ter vergonha e no mínimo retirar-se (até porque o hara-kiri não está, infelizmente nalguns casos, nos hábitos nacionais). E que pessoas honestas que ocupam lugares públicos, que as há, deviam ter a decência de, senão denunciar, ao menos não dar cobertura a certas coisas.

E também afirmo que quem, sendo titular de lugares públicos, procede por acção ou omissão no sentido do que disse acima, já violou o “contrato com a república” que implicitamente fez ao aceitar tais lugares; já está, só por isso, em violação e já está numa posição ilegítima (mesmo que não ilegal). E mais afirmo que quem faz leis iníquas (quem não percebe, p. ex., que a corrupção de titulares de lugares públicos não deve prescrever nunca) já cometeu uma violação séria dos seus deveres cívicos. A qual é agravada se ainda persegue quem tenta investigar “alegadas” violações. Fim do parêntesis)

Eis outras coisas de que aqui se falará, quando houver tempo:

De como é que as “mordomias” (como usar um Falcon para viagens privadas ou o carro ou motorista pago pelos cidadão para fins privados - ou partidários) são a base de sustentação da corrupção, e são já uma sua, ainda mitigada, manifestação.

De porque é que os carros que se conduzem em Portugal têm maior luxo que os de toda a Europa - no país mais pobre da dita (lembram-se?).

De como um “bom chefe de família” não vive acima das suas posses, quando os filhos passam fome (seja a família a sua, própria, seja, figurativamente, a autarquia, região ou país que deve não apenas “dirigir” mas principalmente representar).

De que quando meia dúzia de marginais de reúnem para roubar coisas privadas, se fala de “associação de malfeitores”, mas quando de juntam para usarem os bens públicos em usufruto privado, e para, sempre que possível, transformar com carácter definitivo essa res publica em res privata não se fala, como deveria de "associação de malfeitores com culpas agravadas” mas sim de… (não me lembro agora..., falta-me agora o termo..., eu depois devo vir a lembrar-me... Vocês lembram-se?...)

E falar-se-á ainda de muito mais que nem agora imagino(am)! Se, e enquanto, me deixarem, é claro.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Medina Carreira

Na sexta-feira passada, 24/Abril/2009, Medina Carreira deu uma interessante entrevista a Manuela Moura Guedes, sobre o que ele pensa ser o estado do país. E como o que ele disse mencionou, com correcção uma boa parte do que eu pretendo dizer neste blog, achei que tinha parte do meu problema resolvido... Metia o link para a entrevista e punha fim ao blog!!!

Mas não encontrei essa entrevista online, nem no site da TVI (*), nem em qualquer outro local, mas descobri no YouTube esta outra interessante entrevista do mesmo autor à mesma entrevistadora, só que em 17/10/2008 : http://www.youtube.com/watch?v=z-1fhNEyE98.

Nessa entrevista ele já dizia, mas talvez num ar um pouco menos magoado, o essencial do que aprofundou na referida e indisponível entrevista.

Mas, enquanto ela não aparece, há no YouTube muitas outras entrevistas do mesmo Medina Carreira a Mário Crespo, ao Nós por Cá, etc. que merecem um visionamento atento.

Não conheço o fiscalista de lado nenhum, excepto no que é público - não gosto de algumas das entidades que ele apoia ou apoiou, mas sempre me pareceu um sujeito competente e íntegro, o que, num país como o nosso - como se falará com mais tempo qualquer dia - é uma raridade! E que ele é íntegro e que o indigna o que não o é, e quem não é, é o que faz, na minha opinião, o mérito destes seus vários e continuados depoimentos.

Se alguma coisa é preciso neste país é de pessoas íntegras e que ainda se indignem com a falta de integridade de quem se serve da res publica apenas para os seus interesses privados. Se alguma coisa poder evitar o descalabro completo - o que eu não tenho a certeza de ainda ser possível - é nessa linha. Mas isso fica para outro dia!


(*) Nota Final: Procurei no site da TVI para ver se lá estava a referida entrevista e: 1) não estava; 2) não estava nada que não fosse lixo; 3) não vi, pelo menos nos 5mns que dediquei a isso, um endereço para onde pudesse escrever a perguntar o que pensam fazer à dita entrevista; 4) uma pesquisa no botão de pesquisas do site por "Manuela Moura Guedes" apresenta zero resultados! Mas então afinal para que é que a TVI tem um site? E pode-se ter um grupo de media e não fazer ideia de para que podem/devem servir as novas Tecnologias da Informação?
Neste país, aparentemente pode - e até ter sucesso, pelo menos medido pelas audiências...

domingo, 26 de abril de 2009

Um blog para quê? E porquê agora?

Acho que muita gente que me conhece esperaria que eu tivesse um blog há muito tempo. Mas ter um blog nunca me atraiu... E não me atrai, confesso

Por um lado nunca me senti atraído por "diários". Sempre achei mais piada a fazer, do que a escrever sobre o que teria feito, se não tivesse perdido tempo a escrever sobre isso. (É certo que sempre escrevi muito; mas isso para mim era apenas outra forma de fazer)

E a chamada blogosfera também não me atrai. Não acho piada a bisbilhotices, nem a tipos que gostam de dar nas vistas (já viste aquela coisa tão gira que eu escrevi ontem?), nem a lutas de clãs - tu agora dizes bem do que eu escrevi, que estou do teu lado, ou sou teu amigo, e eu digo bem de ti; e juntos, cada um no seu lado (blog), dizemos mal dos que dizem o contrário do que nós dizemos, os quais, bem entendido, dizem bem uns dos (blogs dos) outros.

É certo que há blogs temáticos interessantíssimos. Mas para esses, confesso, sempre tive alguma preguiça. Para trabalhar, prefiro o trabalho a blogar sobre isso...

Se algum dia tivesse um blog não seria sobre os temas em que trabalho, seria sobre matérias cívicas - sobre matérias a que há 40 anos, ou talvez mesmo há 20, teria chamado "políticas". (E que hoje lhes chame cívicas, e não políticas, significa alguma coisa, como se calcula).

Mas quando percebi que aquilo a que antes do 25/Abril se chamava "política" (do contra), se tinha convertido em "publítica" (um neologismo que junta publicidade+política) decidi que não queria mesmo fazer isso! E em nenhum quadrante - nem no próximo do poder, que dá tachos e mordomias e diz-se que corrompe - e corrompe mesmo! - nem nos mais afastados, que clamam no deserto as verdades de antes, sem perceberem, em muitos casos, que o real já mudou; e que repetir o que antes era progressista, pode hoje ser reaccionário.

Mas agora dão-se três condições novas:

- por um lado, acho que as "coisas" chegaram a um nível tal de degradação (em vários níveis e planos, que espero abordar a seu tempo, mas de que o mais óbvio é o que dá título a este blog) que têm de se manifestar (e juntar) as vozes dos que pensam que o que deveria ser a "res pública" é hoje, apenas, uma forma de constituir, alargar e gerir a "res privata" de alguns, em desfavor da maioria e, mais grave ainda, de inúmeras gerações de maiorias futuras; em suma, dos que acham que não basta fazer melhorias, ou mesmo "revoluções", é indispensável reinventar as formas da nossa vida colectiva, quer no plano nacional, "reinventar Portugal" (se é que Portugal ainda é uma nação...), quer no plano global, "reinventar o mundo". E digo "reinventar" para dizer alguma palavra que se entenda e não falar - mas agora ao nível planetário - na metanoia, de que falava Alberoni em "Genesi".

- por outro lado, começo a estar suficientemente velho para ninguém, em seu juizo perfeito, poder pensar que me quero juntar ao "poder" - não este, claro, mas um outro qualquer, possível (ou impossível), a criar; aliás, nem mesmo na altura em que pensava que era necessário "tomar o poder" me antevi, depois, a fazer parte dele;

- finalmente, ando com o meu tempo muito ocupado (neste preciso momento em que escrevo devia estar a fazer outras coisas) e isso tem algumas vantagens. Em vez de me lembrar de iniciar uma obra longa, infindável e chata; não tenho outro remédio senão ir escrevendo pequenos apontamentos, esporádicos, sobre coisas, umas importantes e outras circunstanciais que, eventualmente, venham algum dia a fazer, não direi um todo, mas um esboço já apresentável do que terá sempre de ser uma "obra aberta".

Se me leu até aqui, arranje forma de ser informado quando aqui aparecer mais alguma coisa. E será raramente...

Até lá, quem tenha ficado curioso com o nome do blog, ou com estes dois posts, pode ir procurando "puxar pela cabeça" e tentar antecipar o que aí vêm. O que também é uma boa forma de "ler"...

Andar por aí à procura do "autor" é que não deve valer muito a pena. (Mas reflectir sobre esta última frase, pode valer a pena...)

Abril sempre?

Ontem foi de novo 25 de Abril.

Parece que todos os anos há um... Consta...

E as televisões repetiram os mesmos filmes e os mesmos programas (as mesmas perguntas, as mesmas interrogações, as mesmas respostas, etc).

E encontram-se aqueles que dizem "Abril sempre!" (alguns dos quais vivem à custa de Abril, mas de "espírito de Abril", nem vê-lo; e outros são "derrotados de Abril" - mas enfim, nesta data mistura-se, como no 25/Abril, ele mesmo, o que é não miscível...

E outros repetiram "Abril nunca! (ou a variante "Abril nunca mais!")

Mas a questão a colocar parece-me mais ser esta: "Abril alguma vez?"

Admito que alguns tenham pensado ou pensem isso mesmo.

Mas, pensar o mesmo sobre isso não significa necessariamente pensar o mesmo sobre isso...

Não sei se me entendem.

Mas se não entendem, não é grave.

Gostaria de ir esclarecendo isso, se tiver tempo livre suficiente e arte que chegue.

Ah, e se não me calarem antes de chegar onde gostaria - o que não me surpreenderia nada...