sábado, 4 de junho de 2011

Hoje é dia de reflexão

Hoje é dia de reflexão. Os partidos não podem fazer campanha, nem as televisões, que bastante a têm feito. Mas nada impede que cada um reflicta. E eu reflicto melhor por escrito; e em diálogo, presencial ou não, com amigos, conhecidos e até com desconhecidos.

Como já referi noutros posts, este é o governo mais autoritário, despesista e fascista (internamente, na AP, toda a gente anda aterrorizada há muitos anos, para não ofender o "profeta" ou os seus acólitos) que existiu em Portugal desde o 25/Abril (muito pior do que o do Cavaco, que até aqui tinha esse lugar).

Com duas agravantes. Por um lado, este diz-se "socialista" (como o do Kadaffi) e, portanto, é considerado "de esquerda" pela comunicação social (que também controla ou influencia) quando é um governo de direita travestido. Para ter um governo de direita, prefiro um que se saiba que é de direita.

Este é um governo dirigido por um "aldrabão consumado" que mente com grande convicção (penso mesmo que isso deveria interessar ao domínio especializado da psiquiatria, mas, não sendo dessa área, não opino mais).

E que se meteu numa séria de trapalhadas, que me escuso de repetir, que em qualquer país civilizado deveriam (cada uma delas) ter conduzido a julgamento, e nunca foi absolvido de nenhuma, porque, ou prescreveram, ou a "justiça" não "encontrou provas suficientes" (escrevo justiça entre aspas, pois em Portugal não existe separação efectiva de poderes e o "poder judicial" faz o que o poder político ou económico lhe diz para fazer, com muito poucas - e honrosas - excepções).

E que conduziu o país à situação em que se encontra, com enriquecimento de muitos dos seus confrades, e de outros que souberam amaciar mãos estendidas daqueles, sem se preocuparem com os mais carenciados, que sofrem salários e pensões reduzidas e aumentos dos preços de tudo, e imensas PME a falir em massa (e tudo isto ainda vai piorar!), para pagar estradas que não se usam, contratos feitos ou renovados com empresas que, na altura ou depois, são "geridas" por amigos dos decisores que lhes deram as concessões, ou outros "amigos" de quem tem o poder - quando não é o decisor que depois aparece á frente da empresa a quem fez, em nome do Estado, condições leoninas (em favor delas, não do Estado).

Dito isto, a minha primeira reflexão é a esperança, que amanhã é que este PS seja punido pela situação catastrófica a que conduziu o país e tenha uma votação ridiculamente pequena.

Esta campanha foi ainda mais ridícula que as anteriores, pois embora nunca se discutam programas, mas apenas fait divers, neste caso, o Programa é o da troika-versão 2 (de que o aldrabão mor até há pouco se recusava a reconhecer que continha cláusulas que lá estão - na versão 2, mas não na versão 1). Portanto, entre os três maiores partidos discutir programas era impossível - o programa já foi escrito pelo troika (de que o FMI se mostrou, aliás, o mais brando - o que não deixa de ser curioso).

As eleições, dizia Marx, servem para "as classes dominadas escolherem os representantes das classes dominantes que os vão dirigir no próximo período". Penso que a situação fica mais clara se o PS tiver uma votação tão pequena que nem possa aspirar a condicionar o governo, de forma a que se arranje uma "carreira internacional dourada" ao "José" e apareça alguém de esquerda que dirija o PS nos próximos anos (se é que ainda lá há alguém de esquerda, do que duvido).

Outra reflexão que esta campanha permite diz respeito à "esquerda". Aquela esquerda (PCP) que, pese embora nunca ter denunciado o que se passou nos países do Goulag dito socialista ou comunista, nem o que se passa ainda nalguns, mostra algum respeito continuado, durante décadas, e genuíno pelos trabalhadores, parece que conseguirá manter os seus votos, o que é importante pois, o PCP talvez não, mas a maioria dos seus militantes e a quase totalidade dos seus votantes fazem por certo parte da solução e não do problema.

Quanto ao Bloco espero que se confirmem as piores expectativas e que perca deputados e força. A esquerda caviar, que "defende os trabalhadores" mas veste roupa de marca, e o seu supremo tele-evangelista (à americana, mas com o modesto título de "Coordenador", como convém) faz parte do problema e não da solução.

Sejamos claros: "o Prof. Louça" deve ser corrido como o seu par "Eng. José". E, depois disso, se verá se o BE faz parte da solução ou deve "dividir-se e dar de novo". Mas muitos dos seus militantes e a quase totalidade dos seus votantes fazem parte da solução - Louça, esse, e alguns outros, fazem parte do problema.

A evolução da globalização e da exploração global, por um lado, o aumento substancial da consciência reflexiva de muitos cidadãos, bem como as novas tecnologias (não em si, mas pelo que permitem ver, comunicar e perceber) impõem uma profunda mudança civilizacional.

Se a democracia partidária foi a forma adequada para o período pós-revolução industrial, hoje, os partidos são bandos de malfeitores, que existem para ajudar o poder económico e se integrarem nele transformando a res publica em res privada.

Exige-se hoje uma democracia participativa, de que começam a haver experiências nalguns países (a Islândia, por exemplo) e movimentos de apoio, ainda dispersos, em muitos outros.

E a primeira medida que se exige é mudar a constituição em dois pequenos pontos. (1) permitir que "grupos de cidadãos", sem o nome de partidos, se possam candidatar às eleições legislativas (como já podem às locais); (2) que grupos de cidadãos possam, não apenas fazer petições, mas tenham o poder de requerer referendos, locais ou nacionais, sobre questões controversas (como se faz na Suíça, por exemplo).

E exige-se que quem defende tal mudança se comprometa com uma reforma profunda do sistema, feita por forma não violenta - uma "revolução não violenta".

Para isso interessa que movimentos ou partidos fora do actual espectro político tenham lugares no Parlamento, o que só parece ser possível em Lisboa.

Se eu vivesse fora de Lisboa, votaria em qualquer partido que tivesse hipótese de roubar um deputado ao PS, sem me preocupar qual seria.

Votando em Lisboa, tenho o privilégio de poder fazer uma aposta mais clara (embora de risco) e esperar que muitos cidadãos pensem como eu. Na sua entrevista com o MEP (e o Dr. Rui Marques, dirigente deste - que daria um excelente candidato independente do PSD, ao lado do Nobre - não percebo porque é o Passos Coelho não se lembrou disso...), a Presidente do Partido Humanista, e cabeça de Lista por Lisboa (sempre tratada pelo entrevistador por Helena Magno, sem títulos - presumo que por imposição prévia da própria), além de ter dito coisas com que estou de acordo no essencial, questionada sobre qual seria a primeira medida que proporia se fosse eleita, respondeu: "alterar a Constituição para permitir que grupos de cidadãos independentes possam apresentar candidaturas em eleições legislativas" (confirmem aqui: http://visaohumanista.blogspot.com/ ) e com isto conquistou o meu voto - embora haja algumas medidas propostas de que discordo, o que não me preocupa nada, pois, vendo a entrevista e os sites do Movimento (também: http://www.movimentohumanista.com/ph/xpagina.php?tema=principal e http://www.internationalhumanistparty.org/ ) fiquei convencido que este movimento tem uma característica que não reconheço em muitos outros - a capacidade de aprender!)

Hoje é dia de reflexão diz-se. As TVs não podem hoje fazer o que fizeram (todas) ao longo da campanha e da pré-campanha - propaganda dos 5 partidos com assento parlamentar!

Mas, na vossa reflexão, não precisam de usar apenas o que já viram. Usem também o que podem descobrir na Internet. E a cabeça, já agora.

domingo, 1 de maio de 2011

Manifesto para um Mundo Melhor (Texto completo)

1 de Maio de 2011

Manifesto para um mundo melhor
Como cientistas sociais que partilham valores de democraticidade e de justiça social, temos estado atentos a esta crise económica internacional multifacetada e com consequências profundamente negativas no que diz respeito ao Progresso da Humanidade.

Vive-se, na Europa e nos Estados Unidos da América, um tempo de crise económica e social profunda, onde o impacto dos mercados financeiros internacionais e da especulação nas economias nacionais se apresenta como fortemente comprometedor não apenas da retoma económica, mas também, não só da estabilidade democrática, como do aprofundamento da democracia e, consequentemente, do bem-estar social.

Às elevadas taxas de desemprego, à precariedade e volatilidade do mercado de trabalho, resultado de políticas neoliberais protectoras e favorecedoras dos interesses do grande capital, os políticos têm vindo a responder com medidas de combate à crise profundamente fragilizadoras das classes de menor estatuto social e económico, mas sem impacto na resolução dessa mesma crise, servindo apenas para “acalmar” o apetite dos mercados financeiros internacionais através do pagamento de elevados e injustificados juros cobrados às frágeis economias nacionais. Estas medidas são apresentadas às opiniões públicas como as únicas verdadeiramente eficazes para minorar os efeitos da voracidade dos mercados financeiros internacionais desregulados, omitindo o papel daqueles na emergência e aprofundamento da crise. Esta é declarada e assumida pelos governantes e por muitos economistas como se de uma fatalidade se tratasse. Ao mesmo tempo, propaga-se a ideia (ideologia) da inviabilidade de alternativas, a par da fragilização, no caso Europeu, do seu Modelo Social assente na redistribuição económica alegando a sua insustentabilidade a médio e longo prazo e a sua subalternização à Europa da Concorrência.

Acentua-se a responsabilidade individual e a desresponsabilização do Estado face aos grupos sociais mais vulneráveis, reduzindo as oportunidades para se realizarem enquanto cidadãos, beneficiando os mais poderosos em prejuízo dos mais desfavorecidos.

O ataque ideológico ao Modelo Social Europeu é um ataque ao mundo, dado que aquele é o modelo-padrão a partir do qual se constroem as aspirações dos cidadãos das nações emergentes e as novas formas de organização social que urge construir nesses países para redistribuir a crescente riqueza de que poucos usufruem.

As suas consequências são o paulatino desmantelamento das protecções sociais que (ainda) limitam os danos da pobreza e da exclusão social pondo em causa o contrato social que fundamenta a democracia. Às grandes desigualdades de distribuição de rendimento existentes nos países emergentes, perpetuadoras de inúmeras vidas imersas na mais profunda pobreza, juntam-se as novas situações, nos países mais ricos, onde o nível de riqueza cresce ao mesmo tempo que o número de pobres.

É em períodos de crise que se constroem alternativas de futuro. Todos os que se sentem interpelados, descontentes e explorados não podem ser mobilizados pelo “medo” para soluções autoritárias. E corre-se esse perigo. Por isso, é este o momento certo para que os cientistas sociais, que se ocupam de analisar, de procurar compreender e de sistematizar conhecimento sobre as sociedades, as suas dinâmicas, as suas forças e também os seus efeitos perversos, se empenhem na construção do aprofundamento da democracia. Em conjunto com todos aqueles que estão dispostos a trabalhar por um Mundo Melhor. Com todos aqueles que sabem que a democracia se inventa e se reconstrói. Outros paradigmas são possíveis, mas exigem o compromisso de todos nós, para que se diminua a distância entre governantes e governados, denunciada há tantos anos por Bourdieu; para que seja possível, à semelhança do preconizado por Edgar Morin, resistirmos a uma ideologia dominante que tudo varre à sua frente e que apresenta como evidente e normal o que mais não é que a exploração e a desigualdade, que recusamos; para que seja possível compreender à semelhança de Cynthia Fleury, que a democracia tem que conter a crítica de si própria, de modo a que se reinventem as regras que nos governam, impedindo a “entropia” das democracias. Torna-se, por isso, fundamental a intervenção no espaço público, nomeadamente através da construção de um Manifesto capaz de interrogar o capitalismo desenfreado em que vivemos (e particularmente a submissão às exigências dos mercados financeiros internacionais) que sacrifica parte significativa dos seres humanos em nome do lucro exacerbado de alguns, encaminhando-os para a perda gradual dos Direitos e da Dignidade Humanos. Trata-se de um Manifesto capaz de questionar o tipo de sociedade que está a construir-se com este modelo económico e apontar para a construção de uma sociedade em que o modelo económico não faça refém a maior parte da humanidade, destruindo-lhe nomeadamente a capacidade de indignação através do aumento da insegurança e precariedade associadas ao mercado de trabalho. O papel dos e das cientistas sociais é também desconstruir as “evidências do mercado”, bem como outras ideologias tão eficazes, nomeadamente no que diz respeito à veiculação de que não existe alternativa para a actual ordem económica e social mundial.

Afirmamos, pelo contrário, que uma nova ordem económica mundial é possível: uma ordem que restitua aos seres humanos o Direito à indignação, o Direito ao trabalho, o Direito a expectativas positivas e oportunidades de vida, o Direito à Dignidade.

Propomos, por isso, a adopção mundial de medidas tendentes a diminuir o impacto social da actual crise mundial que, se consideradas pelas elites governantes mundiais, contribuirão para o incremento das economias nacionais, para restituir ao ser humano a confiança no futuro e para o aprofundamento do sistema democrático.

Uma democracia saudável é uma democracia mais deliberativa e comunicativa, em que as políticas de “redistribuição”, de “reconhecimento” e de “participação” se articulam em prol de uma justiça mais respeitadora dos direitos humanos, mais cooperativa, sem áreas marginais, tendo em vista transformar este nosso mundo numa comunidade de comunidades.

A sobreexposição da opinião pública aos economistas do regime e sua cartilha de pensamento único desvitaliza e despolitiza o espaço público, difundindo a ideia que Margaret Thatcher apregoou quando subiu ao poder e que constitui o nó górdio de todo um programa: "não há alternativa". Nos dias que correm, esta questão surge com particular intensidade no respeitante à dívida soberana. A prenoção da intocabilidade da dívida afoga todas as tentativas de a discutir enquanto instrumento privilegiado de transferência dos rendimentos do salário para o capital. Na verdade, o reescalonamento e a reestruturação da dívida deveria permitir aos países não pagarem juros extorsionários. De igual modo, afigura-se fundamental impor uma justa redistribuição dos sacrifícios, obrigando a banca (uma das principais causadoras e beneficiárias da actual crise) a pagar imposto de acordo com os lucros obtidos, a par da taxação das grandes fortunas, das mais-valias bolsistas e urbanísticas, das transferências para offshores. Finalmente, julgamos essencial que qualquer política macroeconómica calcule, de antemão, o número de pobres que vai produzir, para que se perceba e evite os danos sociais e morais da sua implementação.
A construção de um Movimento Social Internacional

Apela-se a todos os Cidadãos e Cidadãs do Mundo para aderirem a este Manifesto, em ordem a construir um Movimento Social Mundial capaz de enfrentar o actual capitalismo desenfreado que se quer fazer “senhor do mundo” e reféns as pessoas que o habitam. PELA REGULAÇÃO DEMOCRÁTICA E SOLIDÁRIA DO CAPITALISMO. PELA HUMANIDADE COM DIGNIDADE.

Almerindo Afonso (Sociólogo da educação, Instituto de Educação, Universidade do Minho), Ana Benavente (Socióloga da educação, ICS-ULHT, Lisboa), Ana Diogo (Socióloga Universidade dos Açores). Afrânio Mendes Catâni (Sociólogo, Universidade de São Paulo, Brasil) Álvaro Borralho (Sociólogo, Universidade dos Açores), Alexandra Castro (Socióloga, CET/ISCTE), Alberto Melo (Associação in Loco e Universidade do Algarve), António Teodoro (Professor, investigador em educação, Universidade Lusófona), Andrea Spini (Sociólogo, Universidade de Florença, Itália) Bernard Lahire (Sociólogo, École Normale Supérieure Lettres et Sciences Humaines, Universidade de Lyon 2, França), Boaventura de Sousa Santos (Sociólogo, Director do CES, Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra), Carlo Catarsi (Sociólogo, Universidade de Florença, Itália) Carlos Estêvão (Sociólogo da Educação, Instituto de Educação, Universidade do Minho), Casimiro Balsa (Sociólogo, Universidade Nova de Lisboa), Claire Auzias (Historiadora, França) Conceição Nogueira (Psicóloga Social, Escola de Psicologia, Universidade do Minho) Fátima Pereira Alves (Socióloga, Universidade Aberta), Fernando Diogo (Sociólogo, Universidade dos Açores), Filipe Carmo (Historiador), Gilberta Rocha (Socióloga, Universidade dos Açores), Giovanna Campani (Antropóloga, Universidade de Florença, Itália), Isabel Guerra (Socióloga, DINAMIA/CET, IUL/ISCTE), João Teixeira Lopes (Sociólogo, Faculdade de Letras, Universidade do Porto), Luísa Ferreira da Silva (Socióloga, ISCSP - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Técnica de Lisboa), Manuel Carlos Silva (Sociólogo, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho), Maria Alice Nogueira (Socióloga, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil) Maria José Casa-Nova (Socióloga da educação, Instituto de Educação, Universidade do Minho), Maria Helena Cabeçadas (Antropóloga), Manuel Matos (Professor aposentado da FPCE, Universidade do Porto), Manuel Sarmento (Sociólogo, Instituto de Educação, Universidade do Minho), Margaret Gibson (Professor Emérita of Education and Anthropology, University of California, Santa Cruz, USA), Maurizio Matteuzzi (Filósofo, Universidade de Bologna, Itália), Michael Young (Sociólogo, da educação, institute of Education, London) Michel Messu (Sociólogo, Universidade de Nantes, França), Nancy Fraser (Henry A. & Louise Loeb Professor of Philosophy and Politics, New School for Social Research, New York, USA), Nathalie Burnay (Socióloga, Universidade de Namur, Bélgica), Paulo Pereira de Almeida (sociólogo, ISCTE, Lisboa), Pedro Silva (Sociólogo da educação, Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, Instituto Politécnico de Leiria), Roger Dale (Sociólogo, Universidade de Bristol, Inglaterra), Rui Brito Fonseca (Sociólogo, CIES/ISCTE-IUL) Universidade de Lisboa), Rui Canário (Sociólogo da educação, Instituto de Educação, Universidade de Lisboa) Rui Santiago (Professor da Universidade de Aveiro), Saniye Dedeoglu (Centre For Research in Ethnic Relations, School of Health and Social Studies, University of Warwick, Inglaterra), Sílvia Carrasco Pons (Antropóloga, Universidade Autónoma de Barcelona, Espanha), Sofia Marques da Silva (Socióloga da Educação, FPCE, Universidade do Porto) Tiziana Chiappelli (Educadora, Universidade de Florença, Itália), Tiago Neves (Sociólogo, FPCE, Universidade do Porto) David Smith (Sociólogo, Canterbury University, Kent, United Kingdom), Vitor Matias Ferreira (Sociólogo, Prof. Emérito do ISCTE) Xavier Bonal (Sociólogo, Universidade Autónoma de Barcelona, Espanha), Xavier Rambla (Professor de Sociologia, Universidade Autónoma de Barcelona, Espanha).

Manifesto para um Mundo Melhor

Sociólogos contra a exploração e em favor de uma Nova Democracia e um Mundo Melhor. Jean Baby reeinventado...

http://www.publico.pt/Sociedade/manifesto-para-um-mundo-melhor_1492121

domingo, 17 de abril de 2011

Otelo no Público oonline - 17/04/2011

Pese embora os graves erros cometidos depois, Otelo foi o estratega do 25/Abril. E o seu artigo no Publico online de hoje merece ser lido:


Depois de Marinho e Pinto ter invocado uma "greve à democracia"
Otelo acredita que pode estar na hora da democracia directa com que “sonhou” no PREC


Otelo acredita que pode estar na hora da democracia directa com que “sonhou” no PREC
O estratega da revolução de 25 de Abril de 1974 acredita que a crise que o país atravessa poderá levar a que a democracia representativa venha a ser substituída por uma democracia directa, regime com que “sonhou” durante o PREC.

Otelo Saraiva de Carvalho, que participou sábado à noite, em Santarém, num colóquio sobre a canção que serviu de senha para o arranque da Revolução dos Cravos, disse à agência Lusa que é importante acompanhar o que está a acontecer na Islândia, que enfrentou a banca rota em 2008 e que está a viver formas de democracia directa, num processo que poderá ter “um desenlace profundo nas democracias europeias”.

No seu entender, os 37 anos decorridos desde a revolução não consolidaram totalmente o regime de democracia representativa que foi “imposto” a Portugal pela Europa Ocidental e pelos Estados Unidos da América.
“O meu sonho durante o PREC (processo revolucionário pós 25 de abril) começou a ser a possibilidade de instauração no país de um modelo novo de regime político que passava pela democracia directa”, pela criação de um “Estado de poder popular em que os partidos ficassem subalternizados”, à semelhança do que está a acontecer agora na Islândia, disse Otelo Saraiva de Carvalho à Lusa.

Para Otelo, o país está a assistir a “fenómenos importantes” a que é preciso estar atento, como as cada vez mais elevadas taxas de abstenção.

“O bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, veio advogar greve da democracia e se ninguém votar como é que os políticos se acham com legitimidade para continuar a governar o país?”, questionou, frisando que estas “são ideias que vão aparecendo”.

Otelo disse acreditar que a “acção negativa da classe política que tem vindo a governar o país pode levar a circunstâncias que permitam uma alteração profunda disto”.

O “capitão de Abril” advertiu que se nada for feito para acabar com a “imoralidade da diferença salarial” existente no país, com gestores a receberem prémios de milhões e gente a ganhar menos de 300 euros, “o caldo está entornado”.

“Ou a classe política toma consciência da gravidade da situação ou pode haver uma eclosão social enorme”, declarou.

Otelo esclareceu o sentido do “sound bite” retirado da entrevista que deu a semana passada à Lusa -- de que não faria a revolução se soubesse como o país iria ficar -- assegurando que não está “absolutamente nada arrependido” e de que tem “um orgulho enorme em ter sido um dos protagonistas dessa gloriosa giesta”.

A frase surgiu “na sequência de se falar da situação atual, da juventude que está a emigrar por não haver aqui condições”, disse, em comentário às reações que a sua entrevista provocou.

Quanto à declaração de que só a perda de direitos dos militares poderia levar a um “novo 25 de abril”, Otelo reafirmou que as alterações ocorridas nos últimos anos nas forças armadas, com a profissionalização, e a tendência para a dissolução dos idealismos na sociedade levam a que só haja reação “se os direitos forem confiscados”.

“E vamos ver o que pode acontecer com a polícia e a GNR também, se começarem a tirar salários e a não pagarem salários. Aí cuidado”, advertiu.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

El Pai s- Los politicos ceden el mando em Portugal - 11-04-2011

http://www.elpais.com/articulo/economia/politicos/ceden/mando/Portugal/elpepieco/20110410elpepieco_1/Tes

domingo, 10 de abril de 2011

No Público de hoje (10-04-2011)

Referendo está a decorrer : Islandeses ameaçam dizer "não" aos credores pela segunda vez

http://www.publico.pt/Mundo/islandeses-ameacam-dizer-nao-aos-credores-pela-segunda-vez_1489081

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Porque silenciam a ISLÂNDIA?

Anda a circular na Internet uma mensagem não assinada que faz um resumo da situação na Islândia, que já aqui referi (http://resprivata.blogspot.com/2011/03/revolucao-de-cidadaos-na-islandia.html#comments) mas que quase todos os meios de comunicação, nem se atrevem a referir. (Assim se vê a sua independência em relação ao poder económico e político...)

Aí fica o referido mail:


«Estamos neste estado lamentável por causa da corrupção interna - pública e privada com incidência no sector bancário - e pelos juros usurários que a Banca Europeia nos cobra.

Por isso, acho que era altura de falar na Islândia, na forma como este país deu a volta à bancarrota, e porque não interessa a certa gente que se fale dele.

Não é impunemente que não se fala da Islândia (o primeiro país a ir à bancarrota com a crise financeira) e na forma como este pequeno país perdido no meio do mar, deu a volta à crise.

Ao poder económico mundial, e especialmente o Europeu, tão proteccionista do sector bancário, não interessa dar notícias de quem lhes bateu o pé e não alinhou nas imposições usurárias que o FMI lhes impôs para a "ajudar".

Em 2007 a Islândia entrou na bancarrota por causa do seu endividamento excessivo e pela falência do seu maior Banco que, como todos os outros, se afogou num oceano de crédito mal parado. Exactamente os mesmo motivos que tombaram com a Grécia, a Irlanda e Portugal.

A Islândia é uma ilha isolada com cerca de 320 mil habitantes, e que durante muitos anos viveu acima das suas possibilidades graças a estas "macaquices" bancárias, e que a guindaram falaciosamente ao 13º no ranking dos países com melhor nível de vida (numa altura em que Portugal detinha o 40º lugar). País novo, ainda não integrado na UE, independente desde 1944, foi desde então governado pelo Partido Progressista (PP), que se perpetuou no Poder até levar o país à miséria.

Aflito pelas consequências da corrupção com que durante muitos anos conviveu, o PP tratou de correr ao FMI em busca de ajuda. Claro que a usura deste organismo não teve comiseração, e a tal "ajuda" ir-se-ia traduzir em empréstimos a juros elevadíssimos (começariam nos 5,5% e daí para cima), que, feitas as contas por alto, se traduziam num empenhamento das famílias islandesas por 30 anos, durante os quais teriam de pagar uma média de 350 Euros / mês ao FMI. Parte desta ajuda seria para "tapar" o buraco do principal Banco islandês.

Perante tal situação, o país mexeu-se, apareceram movimentos cívicos despojados dos velhos políticos corruptos, com uma ideia base muito simples: os custos das falências bancárias não poderiam ser pagos pelos cidadãos, mas sim pelos accionistas dos Bancos e seus credores. E todos aqueles que assumiram investimentos financeiros de risco, deviam agora aguentar com os seus próprios prejuízos.

O descontentamento foi tal que o Governo foi obrigado a efectuar um referendo, tendo os islandeses, com uma maioria de 93%, recusado a assumir os custos da má gestão bancária e a pactuar com as imposições avaras do FMI.

Num instante, os movimentos cívicos forçaram a queda do Governo e a realização de novas eleições.

Foi assim que em 25 de Abril (esta data tem mística) de 2009, a Islândia foi a eleições e recusou votar em partidos que albergassem a velha, caduca e corrupta classe política que os tinha levado àquele estado de penúria. Um partido renovado (Aliança Social Democrata) ganhou as eleições, e conjuntamente com o Movimento Verde de Esquerda, formaram uma coligação que lhes garantiu 34 dos 63 deputados da Assembleia). O partido do poder (PP)perdeu em toda a linha.

Daqui saiu um Governo totalmente renovado, com um programa muito objectivo: aprovar uma nova Constituição, acabar com a economia especulativa em favor de outra produtiva e exportadora, e tratar de ingressar na UE e no Euro logo que o país estivesse em condições de o fazer, pois numa fase daquelas, ter moeda própria (coroa finlandesa) e ter o poder de a desvalorizar para implementar as exportações, era fundamental.

Foi assim que se iniciaram as reformas de fundo no país, com o inevitável aumento de impostos, amparado por uma reforma fiscal severa. Os cortes na despesa foram inevitáveis, mas houve o cuidado de não "estragar" os serviços públicos tendo-se o cuidado de separar o que o era de facto, de outro tipo de serviços que haviam sido criados ao longo dos anos apenas para serem amamentados pelo Estado.

As negociações com o FMI foram duras, mas os islandeses não cederam, e conseguiram os tais empréstimos que necessitavam a um juro máximo de 3,3% a pagar nos tais 30 anos. O FMI não tugiu nem mugiu. Sabia que teria de ser assim, ou então a Islândia seguiria sozinha e, atendendo às suas características, poderia transformar-se num exemplo mundial de como sair da crise sem estender a mão à Banca internacional. Um exemplo perigoso demais.

Graças a esta política de não pactuar com os interesses descabidos do neo-liberalismo instalado na Banca, e de não pactuar com o formato do actual capitalismo (estado de selvajaria pura) a Islândia conseguiu, aliada a uma política interna onde os islandeses faziam sacrifícios, mas sabiam porque os faziam e onde ia parar o dinheiro dos seus sacrifícios, sair da recessão já no 3º Trimestre de 2010.

O Governo islandês (comandado por uma senhora de 66 anos) prossegue a sua caminhada, tendo conseguido sair da bancarrota e preparando-se para dias melhores. Os cidadãos estão com o Governo porque este não lhes mentiu, cumpriu com o que o referendo dos 93% lhe tinha ordenado, e os islandeses hoje sabem que não estão a sustentar os corruptos banqueiros do seu país nem a cobrir as fraudes com que durante anos acumularam fortunas monstruosas.

Sabem também que deram uma lição à máfia bancária europeia e mundial, pagando-lhes o juro justo pelo que pediram, e não alinhando em especulações. Sabem ainda que o Governo está a trabalhar para eles, cidadãos, e aquilo que é sector público necessário à manutenção de uma assistência e segurança social básica, não foi tocado.

Os islandeses sabem para onde vai cada cêntimo dos seus impostos. Não tardarão meia dúzia de anos, que a Islândia retome o seu lugar nos países mais desenvolvidos do mundo. O actual Governo Islandês, não faz jogadas nas costas dos seus cidadãos. Está a cumprir, de A a Z, com as promessas que fez.

Se isto servir para esclarecer uma única pessoa que seja deste pobre país aqui plantado no fundo da Europa, que por cá anda sem eira nem beira, ao sabor dos acordos milionários que os seus governantes acertam com o capital internacional, e onde os seus cidadãos passam fome para que as contas dos corruptos se encham até abarrotar, já posso dar por bem empregue o tempo que levei a escrever este artigo...»

domingo, 3 de abril de 2011

Citação do dia

“Never doubt that a small group of thoughtful, committed citizens can change the world. Indeed, it is the only thing that ever has.” - Margaret Mead

PROGRAMA DE TV CENSURADO EM PORTUGAL - PLANO INCLINADO (SIC Notícias) co...

PROGRAMA DE TV CENSURADO - PLANO INCLINADO (SIC Notícias) - Comentário..

Este é o mais recente programa de televisão censurado pelo sistema político português. Nesta última emissão do "Plano Inclinado", transmitido na SIC Notícias a 12 de Fevereiro, o fiscalista Henrique Medina Carreira e o ex-dirigente socialista Henrique Neto explicam que os partidos políticos funcionam como máfias e estão a levar Portugal à bancarrota económica pela segunda vez na História de Portugal.

Henrique Neto revelou a forma como a Maçonaria controla os partidos (ver minuto 26:33). Depois deste programa ir para o ar, a SIC cancelou todas as emissões seguintes.

Os convidados também concordam que não existe nenhuma alternativa dentro do parlamento, com partidos como o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista a defenderem ideias retrógradas do séc. XIX.

Actualização de 28 de Fevereiro:
Marcelo Rebelo de Sousa confirmou que Henrique Medina Carreira foi afastado por ser incómodo, num texto publicado no seu blogue do jornal Sol:

«Por falar em más notícias, Medina Carreira foi colocado, gentilmente, de quarentena. Um mensageiro, há tantos anos, de más ou mesmo péssimas notícias, é sempre visto com enfado se e quando algumas dessas notícias podem chegar à ribalta. Nessas ocasiões, é sempre preferível algo de mais leve para distrair os espíritos...»

Que fazer face às próximas eleições?

Nota: Reprodução de um post colocado nas "Discussões" no "Forum das Gerações"

Sei que já há um tópico sobre "Voto em Branco" e apelos a "votar nos pequenos partidos", e outros, mas gostava de introduzir uma questão mais geral e uma perspectiva diferente. Pedia-vos o favor de me acompanharam num raciocínio um bocadinho mais complexo.

1. Porquê eleições antecipadas?

1.1. PS e PSD tinham-se unido no PEC 3. Quem foi responsável por provocar eleições antecipadas pouco tempo depois? Em primeiro lugar o PS, ao negociar lá fora, sem informar o PR e o maior partido da oposição. Em 2º lugar, o PR com o discurso que fez na posse. Em terceiro lugar, todos os restantes partidos que chumbaram o PEC4, numa "coligação contra-natura": PSD, CDS, PC+PEV e BE. Já pensaram porque é que TODOS se juntaram nesta ideia de provocar "eleições antecipadas"?

1.2. Pode haver várias hipóteses e não vou analisar todas. Vou apenas sugerir uma que ainda não vi referida. Porque entre o PEC 3 e o PEC 4 se deram três fenómenos: a revolução na Islândia, as revoltas no Magreb e, em Portugal, a manif. de 12/3! E porque essa Manif não acabou com a entrega de inúteis folhas A4 à maior eminência parda do regime (o Presidente da AR), antes se continuou com este "Forum das Gerações" e com reuniões regionais e nacionais do movimento. Porque os políticos sabem melhor que nós que um movimento deste tipo precisa de tempo para emergir e, se lhe for dado tempo, pode criar uma situação que os ponha em causa.

1.3. Portanto, admitam apenas como hipótese, este motivo (que por acaso, a mim, me parece o verdadeiro): provocaram-se eleições aceleradas para não dar tempo a que um movimento em favor de uma "democracia participativa" e "contra o sistema", "concebido" no 12/3, tivesse tempo para se desenvolver, emergir e se consolidar. Portanto, para o forçar a "abortar" antes do seu tempo necessário de gestação.

1.4. Se isto for assim, então a nossa resposta às eleições deve ser: ou não fazer nada e continuarmos calmamente o desenvolvimento do movimento; ou elaborarmos um "programa mínimo" contra as mordomias, a corrupção e os privilégios dos titulares de cargos partidos (incluindo acabar JÁ, e com efeito imediato, com as reformas de políticos e gestores públicos antes dos 65 anos, por ilegítimas e contrárias ao que se aplica a todos os outros cidadãos) e apresentá-lo a todos os partidos, exigindo que se pronunciem sobre ele. Em qualquer caso, dar liberdade a cada pessoa para fazer o que achar melhor nas eleições.

2. Que significam as várias atitudes eleitorais?

2.1. Quando de olham para as estatísticas de eleições passadas, que números é que são mencionados? Apenas as percentagens de cada partido (ignorados os votos brancos e nulos!!!) e a percentagem da abstenção.

2.2. O que é que mais assusta as democracias representativas europeias? O crescimento da percentagem das abstenções! Porque, se é certo que entre quem não vota há alguns que é só por preguiça, há muitos outros que não votam PORQUE JÁ NÃO ACREDITAM NO ACTUAL SISTEMA. Muitos desses estiveram na manifestação de 12/3, precisamente porque esta se afirmou "apartidária", e admitiram que dali pudesse vir a nascer uma ALTERNATIVA AO SISTEMA.

2.3. Que este é o grande receio das "democracias" prova-o o facto de que o PR e o Presidente da CNE fazem antes das eleições apelos ao voto: "votem em quem quiserem, ou votem em branco, mas por favor vão às urnas votar!". O mesmo apelo é feito pelos lideres dos partidos: "mesmo que votem contra nós, votem!" A razão para isto é simples, e é esta: todos os que, no dia das eleições, se juntarem à carneirada e forem meter um boletim na urna estão a dizer que AINDA ACREDITAM NO SISTEMA!

3. Então e as várias alternativas de apelo ao voto que estão a ser feitas neste forum?

Analisemo-las uma a uma.

3.1. Votar em branco: não serve para nada! É o mesmo que um voto nulo (por exemplo: por engano, a pessoa mete duas cruzes). No dia das eleições são mencionados - passados dois meses já ninguém se lembra! É como a seguir a um jogo de futebol dizer-se que a equipa que perdeu por 2-1 teve 21 cantos a seu favor e a outra só teve 2 cantos a seu favor. Isso recorda-se durante três dias, mas, depois, o que passa para as estatísticas é o resultado final: 2-1, a favor da equipa que menos atacou.

3.2. Votar nos partidos minoritários com representação parlamentar. Pode aumentar ligeiramente os seus resultados eleitorais e número de deputados, mas esses também já são "partidos metidos no sistema", com direito às mesmas mordomias (incluindo reformas antecipadíssimas e viagens), que continuarão a ser altamente minoritários e, não sei se querem, mas, mesmo que quisessem, não poderiam "mudar de sistema".

3.3 Votar nos partidos que nunca elegeram deputados. Vão ser em geral "votos perdidos". Eventualmente, e apenas em Lisboa, poderia eleger-se no máximo um deputado de um deles. Mas os seus programas são no mínimo confusos e no máximo reaccionários.

3.4. É que as eleições - e nunca vi isto referido, mas é essencial - são regidas pelo método de Hondt, de base distrital , o qual existe para facilitar a formação de maiorias e penaliza fortemente os pequenos partidos em favor dos grandes.

4. Em conclusão

4.1. Este país não precisa de uma "democracia representativa melhor"; precisa de acabar com a democracia representativa e substitui-la por uma democracia participativa!

4.2. Mas a conjugação de esforços, para configurar o modelo que se pretende e ir ganhando força para o impor, leva tempo.

4.3. Enquanto discutimos o que fazer nas eleições, estamos a perder tempo para fazer isso e a canalizar esforços para um objectivo inútil.

4.4. E os que estão a apelar para "irmos às urnas" estão a, entre nós, fazer o mesmo exacto discurso que o PR e o Presidente da CNE farão no dia anterior às eleições para todo o país: votem em quem quiserem, mas vão ás urnas votar", porque ir às urnas votar (mesmo que em branco) é afirmar que se acredita que o sistema se muda pelo voto!).

4.5. E não muda, pois todo o sistema está "viciado", para facilitar maiorias e permitir a "alternância democrática", digo, a alternância entre os que nos vão roubar no período seguinte...

4.6. As diferenças entre este movimento e e todos os anteriores são duas. O povo português, em especial os mais pobres, mas actualmente também as classe médias, estão a ficar numa situação que cada dia se torna mais insustentável e, entretanto, houve o 12/3 e, principalmente, o que a ele se seguiu. Ninguém nos perdoaria se deixássemos escapar esta oportunidade de voltar aos ideias esquecidos, que eram os do 25/Abril.

4.6. Acho pois que uma anti-manifestação no 25/Abril, desde que seja "pacífica e apartidária", e, já agora, "sem barulhos excessivos" poderia ser positiva. Todos vestidos de preto e em silêncio - em suma uma representação do "enterro do 25/Abril" - que os partidos já fizeram há muito, mas que pode agora ser "recordado". E ninguém vai para os enterros com vuvuzelas ou a bater tachos. Isso é no Carnaval!

4.7. E, entretanto, acelerar os trabalhos dos grupos regionais e nacionais.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Manifestação contra o Nuclear em Berlim

De acordo informações que recebi de um dos presentes (um "jovem" de cerca de 70 anos), realizou-se no passado Sábado, em Berlim, uma manifestação pelo encerramento imediato de todas as centrais nucleares na Alemanha, que reuniu cerca de 120 000 pessoas.

Viram isso nos jornais ou Televisões no Domingo? Eu não vi.

A relacionar com os resultados das eleições de Domingo na região de Baden Wuerttemberg, onde houve um forte crescimento dos Verdes, permitindo a vitória do SPD e uma forte derrota da CDU, de Merkel.

sábado, 26 de março de 2011

Thousands turn out for anti-cuts march in London - 26th March 2011 (BBC)

http://www.bbc.co.uk/news/uk-12871185

Angola também se move

Actuação do rapper Brigadeiro Mata frakuzx a 27/JFev apelando à Manif de 7/Março/2011

http://www.youtube.com/watch?v=_mhF7tDoekg

Esclarecimento do Brigadeiro Mata frakuzx (aka, João Beirão)

http://www.youtube.com/watch?v=7rmihrYikaU

O movimento nascido a 12/Março e as eleições antecipadas

Nas "Discussões no "Forum das Gerações" no Facebook (que em boa hora substituiu a discussão centrada na "Geração à rasca") têm sido marcadas e realizadas reuniões regionais de grupos de várias idades que participaram na manifestação de 12/Março e criado imensas discussões (200 neste momento) sobre os mais variados temas, incluindo várias sobre a crítica da "democracia representativa" (e corrupta) que nos governa, em torno de formas de democracia participativa

Na sequência da crise política actual e da possível realização de eleições antecipadas, foi aberta uma discussão com o tema "Eleições Estão Próximas; Que Faremos?"

Houve um participante que meteu nessa discussão ( e em muitas outras que não tinham nada a ver com o assunto) um post a dizer:

«Não ao voto no Bloco Central! Vamos sanear o parlamento! Se nem o PS nem o PSD tiverem assento parlamentar nas próximas eleições, os ratos abandonam o barco, os partidos ganham humildade e aprendem a temer o voto democrático!
Vamos todos votar, mas em qualquer partido menos no Bloco Central!
»

Respondi a esse post com os seguintes comentários que resumem, a partir do ponto 4, a minha posição sobre o movimento que emergiu do 12/Março e as eleições e que, por falta de tempo para os reelaborar, reproduzo aqui na integra (salvo o nome do spammer que não me parece relevante repetir).

1. Meter o mesmo post em várias discussões, nalgumas onde até pode fazer sentido, como nesta, e noutras onde não faz nenhum (como a discussão sobre a Islândia, para dar só um de muitos exemplos) é SPAM.
2. É utilizar os métodos abusivos dos publicitários e dos "publíticos" (esta mistura de políticos/publicitários que anda por aí) para impor uma ideia.
3. E a ideia é errada e, por estranho que possa parecer, faz o jogo do Bloco Central (e do CDS). Os actuais partidos políticos ditos "de esquerda" têm tido múltiplas oportunidades de ir a votos. Nunca conseguiram grandes votações e, mesmo que cada um deles tivesse agora mais 2%, continuariam a ser minoritários e o voto útil continuava a dar uma maioria relativa a PS ou PSD, que depois fariam alianças entre eles.

4. Na sequência da manifestação de 12/Março, está a começar um "movimento", que passa por múltiplas discussões em grupos regionais, que põe em causa o actual sistema de "democracia representativa" (que é "um sistema pelo qual os eleitores escolhem, de tantos em tantos anos, quem são os representantes das classes dominantes que os vão governar no próximo período") e procura configurar o que pode ser um sistema alternativo, que implique uma "mudança de paradigma civilizacional", e que seja uma verdadeira democracia participativa, em que os eleitos emerjam do povo, e sejam revogáveis a todo o momento, desde que se afastem dos compromissos assumidos, ou comecem a distribuir lugares aos seus boys (que logo aparecem), ou a manter a estreita relação de interesses, mordomias e até corrupção que caracteriza o actual sistema de democracia representativa em (quase) todo o mundo.
5. A emergência desse movimento de mudança civilizacional, que aliás também está a ser tentado de múltiplas formas (na maioria dos casos, formas locais e parcelares) em muitos outros países, leva tempo, como todas as emergências! E pode dar resultados positivos, ou não!
6. Não tenho nenhuma receita milagrosa para o problema, mas penso que se formos a correr tentar fazer coisas que levam tempo, nos arriscamos a falhar e a matar as potencialidades transformativas do movimento.
7. A actual "crise política" (aliás bem menos grave que a crise económico-social em que o país vive) é um epifenómeno no seio do "sistema da democracia representativa". Penso que ela não nos deve afastar do caminho que estamos a singrar.
8. Esse caminho NÃO passa, aliás, por muitas folhas A4 entregues ao Presidente da AR - que faz parte do sistema - e que, por serem muito provavelmente contraditórias entre si, nunca serão "processadas"!
9. Sugiro que continuemos o nosso caminho, com a velocidade possível e adequada. Considero, por exemplo, as conclusões da reunião do Movimento Cívico de Lisboa um óptimo exemplo do percurso a fazer.
10. Se esse caminho der resultados a tempo das eleições, muito bem; se não der, teremos "mais do mesmo" durante algum tempo. Mas se esta situação já dura há 35 nos, não será o durar mais dois ou três que é importante. O importante é que a alternativa quando surgir tenha (1) uma formulação claramente alternativa a TUDO o que se tem feito até aqui e (2) a mais larga adesão do povo.

11. A grande adesão às manifestações de 12/Março não foi tanto o resultado dos "fabulosos 4" (que por acaso eram de Liverpool...); resultou de que a manifestação se afirmou como "apartidária e pacífica" e, portanto, teve ressonância em muitos portugueses, de todas as idades, que estão a ter graves dificuldades devidas à crise económica e começam a já não acreditar no "sistema".
12. Ora essa crise vai-se em qualquer caso - e infelizmente - agravar nos próximos meses, evidenciando perante cada vez mais pessoas, DE TODAS AS IDADES, que o actual sistema está esgotado, mesmo nos países onde ainda existe alguma honestidade dos políticos, quanto mais num em que os políticos querem enriquecer o mais depressa possível, e mesmo a extrema-esquerda veste "roupa de marca".
13. Penso que o movimento que pode emergir daqui precisa de estar consolidado nessa altura e não necessariamente na data em que forem realizadas as eleições.
14. Até lá, às crises do sistema, e às eleições para a AR, eu digo: nada - mas não pretendo vender a minha solução a ninguém; cada um que tome a sua!

terça-feira, 22 de março de 2011

Direct Democracy Ireland - Presentation by Raymond Whitehead - Part 1 of 3

Direct Democracy Ireland (using the experience of Switzerland)

Democracy 2.0 Overview

Democracy 2.0 Declaration

Democracy 2.0 Declaration, USA (uma declaração da juventude)

sábado, 19 de março de 2011

Mais perspectivas globais - O planeta Terra é a nossa casa comum

O Planeta Terra como a nossa casa:

http://www.youtube.com/watch?v=jqxENMKaeCU

Outras perspectivas globais

De Mick Ruppert: "Collapse"

(O papel do petróleo e da energia e a sua relação com a economia e a política - o sistema político global está em colapso, a população vai diminuir drasticamente, um conjunto de revoluções em todo o mundo são inevitáveis, e uma nova civilização que substitua a actual necessita de um novo paradigma.

http://www.youtube.com/watch?v=N265btig54A (parte 1 de 9)

http://www.youtube.com/watch?v=q-sVrtQbHSg&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=1_576YUi8gk&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=HZAHagKUw4Q&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=ofUCWRDmpCY&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=T2VOL3nzHqE&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=KQjmV0Y8qwI&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=2Anfswfrtlo&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=SWgDmzAmI2I&feature=related (parte 9 de 9)


Mais "teoria da conspiração? Ou talvez não...

sexta-feira, 18 de março de 2011

Ainda a crise - E se o problema for mais vasto do que o estamos a ver?

Acredite-se ou não nelas, as perspectivas de Alex Jones merecem reflexão

Alex Jones sobre a crise global actual e o papel da Banca:

http://www.youtube.com/watch?v=QiY8QB1fNAY&feature=player_embedded

Alex Jones sobre a Internet do futuro e quem a vai dominar/controlar:

http://www.youtube.com/watch?v=yXVuPvJG91I&NR=1

quarta-feira, 16 de março de 2011

12/Março - Um balanço 4 dias depois

1. Antes e durante o 12/Março

As manifestações de 12/Março foram convocadas via Internet, através de uma página do Facebook que se destinava a congregar uma auto-denominada "Geração à rasca" (em princípio pessoas entre os 25 e os 35 anos, creio), e que continha uma "Manifesto".

No início não era claro quem convocava a referida manifestação e, depois de três jovens se mostrarem ao público, aparentemente outros foram agregados e ninguém sabe quem orienta as coisas. O que é grave, porque deveria haver porta-vozes nomeados, um endereço de mail de grupo claramente definido para se escrever aos (auto-proclamados) lideres originais e participações individuais dos seus membros nos fóruns, para se perceber quem pensa o quê, pois isso pode vir a ser importante no futuro (já explicarei porquê).

Quanto ao manifesto, como na altura comentei (http://resprivata.blogspot.com/ - post de 5/Março, sobre "A Manifestação de 12/Março") tinha os grandes méritos de ser um sinal claro de protesto num país em todos se queixam em privado, mas não se mobilizam colectivamente, e de afirmar que se tratava de uma manifestação "laica, apartidária e pacífica", e dois grandes deméritos: o título de "Geração à rasca" que é deselegante e mostra, desde logo, que não percebem que está todo o país à rasca, e o auto-afirmar de tal geração como "a mais bem preparada de sempre" - o que nem é verdade, como então expliquei, e, mesmo que fosse, deveria ter sido silenciado.

Creio que os promotores não esperavam a adesão que tiveram e não estavam preparados para a mesma, tendo a manifestação sido "metida no bolso" pelos "Homens da Lata" (ou da Luta, ou lá como é) que, esses, pertencem a outra geração, mas estavam preparados para conduzir uma manifestação. Um comentário de uma das organizadoras, no próprio dia 12, concluía isto mesmo.

No entanto, a leitura dos comentários do Facebook muito antes do dia 12, mostrava que esta oportunidade iria ser aproveitada por pessoas de outras gerações, que tinham os seus motivos (alguns bem mais graves) para se manifestarem em protesto contra o "estado de coisas" nacional (e não só). Era pois claro para mim que a adesão seria maior do que o previsto.

2. E depois do 12/Março

Já antes se notava, mas depois do sucesso da manifestação, passou a ser ainda mais claro, que tal não identificação clara dos promotores tinha consequências graves, como o aparecimento de várias páginas oportunistas, como uma "Manifestação contra José Sócrates" (http://www.facebook.com/home.php?sk=group_202666929750883&ref=ts#!/pages/Manifesta%C3%A7%C3%A3o-Contra-Jos%C3%A9-Socrates/352021872497), ou 7 (sete) páginas convocando manifestações para 19/Novembro (que, prognostico desde já, terão bem menor adesão, e poderão marcar o início da desagregação do movimento).

Um aspecto positivo, foi a criação do "Fórum das Gerações" (http://www.facebook.com/home.php?sk=group_202666929750883&ref=ts#!/forum.das.geracoes), penso que criado pelos organizadores originais - mas nem isso é inequívoco - que tinha o mérito de ser mais englobante e acabar com a "rasca", e o de usar o campo das "discussions", para permitir um diálogo mais organizado.

No entanto, era evidente ontem pelas 12H da manhã, que esse formato também não era o ideal. Uma análise que fiz mostrava que havia 146 tópicos abertos, muitos dos quais se sobrepunham, pelo que sugeri na altura, que se concentrassem esse grupos dispersos e se começasse a pensar noutra modalidade para fazer as discussões.

Aliás, havia já então três foruns abertos, de que apenas o último se sabia por quem...

3. Quando voltei a olhar para o site, cerca das 23H, constatei que havia duas grandes diferenças.

3.1. Por um lado "alguém" tinha "reorganizado" as "discussions", retirando as que não lhes interessavam, e apagando imensos posts que delas constavam, e estavam todas assinadas como a última intervenção ter sido feita por um tal "Vamos lá, 1 Milhão na Avenida da Liberdade pela Regeneração Política ".

Esta atitude de retirar tópicos e posts é de uma extrema prepotência e revela um espírito semelhante ao que, no mesmo dia, o primeiro ministro explicou as suas atitudes na cimeira europeia. "Cabe-me dirigir o país (neste caso, o movimento) e fiz o que achei melhor, sem consultar ninguém". Lindo!

Em consequência, vários posts meus(e de outros) foram apagados e várias mensagens que tinha recebido por mail, relativas a tópicos em que tinha participado e a que outros tinham respondido, iam ter a um endereço que dizia: "o post que procura já não está disponível". Calculo que o mesmo terá acontecido a centenas de outras pessoas. E tópicos fundamentais, como os que propunham reuniões de reflexão, para o próximo Sábado, ou foram apagados (ou não os encontro), talvez porque desviariam pessoas das tais manifestações de 19/Março, que todas se confundem umas com as outras, e já nada as distingue. (Afinal os organizadores iniciais foram, mas já não são, ou ainda são, filiados em certos partidos?)

Este tipo de prepotência, que é aliás bastante similar à dos nossos governantes é inaceitável e revela o tipo de comportamentos "não transparentes" que criticamos no sistema. Num sistema de Web 2.0 os tópicos e posts antigos nuca são apagados. Podem é ser criados outros, alternativos, e logo se vê quais obtém maior adesão.

É necessário que os organizadores se identifiquem pessoalmente para que a crowd possa escolher, entre eles, os que dizem coisas acertadas e os que são responsáveis por este tipo de prepotências.

3.2. já tinha sido criado nas "discussions" (por "Inova Portugal") no "Fórum das Gerações" um tópico virado apenas para os "informáticos(http://www.facebook.com/pages/F%C3%B3rum-das-Gera%C3%A7%C3%B5es-Inform%C3%A1tica/188730051164967#!/topic.php?uid=104757732940015&topic=157). A tal "renovação" criou um grupo autónomo, "Fórum das Gerações - Informática" (http://www.facebook.com/home.php#!/pages/F%C3%B3rum-das-Gera%C3%A7%C3%B5es-Inform%C3%A1tica/188730051164967),que, tendo embora alguns materiais interessantes, parece revelar a intenção dos organizadores de não perderem o protagonismo.

O que se pretendia discutir no primeiro (qual a melhor forma de dar continuidade ao debate) não é aliás semelhante ao do segundo, que se refere às TIC como suporte a uma democracia participativa, nelas apoiada.

Num deles - já nem sei em qual, porque a confusão é grande - já se propunham tecnologias (php, SQL, etc.) sem que antes se tivesse discutido "o que se pretende alcançar?", nesta fase queremos TIC para quê?

E sem se discutir o que são "plataformas colaborativas" e o que é a Web 2.0, onde nada e´apagado, e o prestígio e liderança se ganham ou se perdem pela adesão dos outros e não por decisões unilaterais de "apagar", "reestrutur" e, em suma, "censurar". Disso já tivemos, embora a tal geração mais nova não tenha conhecido...

Ora, como o gato de Cheshire esclareceu Alice, "quando não se sabe para onde se quer ir, qualquer caminho é bom".

domingo, 13 de março de 2011

Revolução de cidadãos na Islândia

http://www.parisseveille.info/quand-l-islande-reinvente-la,2643.html

Révolution

Quand l’Islande réinvente la démocratie

l’Assemblée constituante a été élue en novembre.

Un jour, il y a quelques mois, un anglais passant par Paris, rencontré à la librairie Lady Long Solo, nous alertait sur la révolution en Islande. Quelle révolution ? On n’en entend parler nulle part. Une rapide recherche google ne donne rien du tout, aujourd’hui, ni en associant le mot « révolution », ni même « crise », où l’on ne trouve que des détails sur la crise financière, effectivement à l’origine de cette révolution, qui a eu lieu en 2008, dans ce pays d’à peine plus de 300 000 habitants, classé au deuxième rang mondial sur l’indice du développement humain, l’IDH, derrière la Norvège, à la veille de cette crise, en 2006.
Confronté alors à la faillite brutale du système bancaire, le peuple était descendu dans la rue. Du jamais vu au pays des jeysers d’eau chaude. La droite avait aussitôt dû céder la place à la gauche. Et, pour commencer, les banques avaient été nationalisées. Notre informateur anglais en avait entendu parler pour les projets législatifs de liberté totale pour internet, tels que des sites anglais pensaient à s’héberger là. Plus encore, il insistait pour parler d’une véritable révolution, sans pouvoir la décrire plus, mais s’étonnant qu’on n’en ait jamais entendu parler.
Cherchant alors avec obstination, on a fini par voir des images du palais présidentiel assiégé par une foule qu’on qualifierait ici sans hésiter d’anarcho-autonome. En plus des drapeaux noirs, on pouvait deviner dans la foule une forte composante de citoyenneté de type écologiste. Et on comprenait que le pauvre malheureux flic, tout seul devant le palais présidentiel, ait rapidement dû se rendre sous la pression de la foule. Celle-ci, néanmoins pacifique, n’usait que de casseroles et autres objets bruyants, selon la méthode argentine du cacerolazo, qui a su s’avérer très payante aussi là-bas.

Le président avait plié bagage. Un nouveau gouvernement s’était institué. Mais, quelques temps plus tard, celui-ci avait la mauvaise idée de proposer le remboursement de la dette des banques vis-à-vis du Danemark ou de la Grande Bretagne. Le peuple est de nouveau descendu dans la rue. Un référendum sur la question était imposé par volonté populaire, et une petite majorité de 93% rejetait l’accord prévu par les gentils gouvernants.

Parmi les informations glanées, cette image saisissante de l’agora dans les bains publics chauds, où le peuple s’assemble tous les matins pour débattre de comment refaire le monde.

Consécration de cette révolution, l’élection d’une Assemblée constituante, le 27 novembre 2010, événement peut-être plus considérable que la nuit du 4 août 1789 où était votée l’abolition des privilèges, dont on ne se serait pas aperçu sans la vigilance de Truks en vrac, de notre ami B.Bec, du Gers, relayant le CADTM, ou de Jean-Luc Mélenchon, qui trouve là une similitude avec ses propres thèses constitutionnalistes, mais ne semble pas voir plus loin que le bout de son nez anti-capitaliste.

Merveille de la désinformation. Un événement aussi considérable qu’une véritable révolution démocratique, telle qu’on n’en a jamais vue en Europe, peut se produire sans que la presse, ni google, ne permettent d’en savoir quoi que ce soit. C’est sûr qu’à l’heure de la consolidation anti-démocratique que vivent la plupart des pays européens, l’exemple islandais ne fait pas vraiment l’affaire de nos régimes policiers, qui montrent là encore leur aptitude à verrouiller rigoureusement la conscience collective.

On aimerait assurément en savoir plus sur cette révolution islandaise. Voilà des mois que Paris s’éveille rêve de téléporter sa rédaction pour un reportage approfondi au pays des chasseurs de baleines et d’utopie. S’immerger dans les bains chauds de la révolution démocratique fait certes envie, surtout vu du cœur de notre hiver sécuritaire.

Il faut s’imaginer les 25 « simples citoyens » qui vont plancher sur la constitution idéale. Le souffle de l’humanité devrait se retenir. Où l’on verra probablement qu’il n’est pas difficile de faire mieux que toutes les figures de pseudo-démocraties qui se sont déclinées jusqu’ici sur les cinq continents.
Cet article se voudrait un appel à qui aurait plus d’informations sur cette extraordinaire histoire islandaise. On peut m’écrire à : michelsitbon@gmail.com, et je relayerai avec plaisir. Un dossier sur la révolution islandaise tente de rassembler les articles qu’on peut trouver sur le sujet.

Mots clés (Tags): Islande Justice Libertés Médias Politique Révolutions

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Depuis le samedi 27 novembre, l’Islande dispose d’une Assemblée constituante composée de 25 simples citoyens élus par leurs pairs. Son but : réécrire entièrement la constitution de 1944 en tirant notamment les leçons de la crise financière qui, en 2008, a frappé le pays de plein fouet.

Depuis cette crise dont elle est loin d’être remise, l’Islande a connu un certain nombre de changements assez spectaculaires, à commencer par la nationalisation des trois principales banques, suivie de la démission du gouvernement de droite sous la pression populaire. Les élections législatives de 2009 ont amené au pouvoir une coalition de gauche formée de l’Alliance (groupement de partis composé des sociaux-démocrates, de féministes et d’ex-communistes) et du Mouvement des Verts de gauche. C’était une première pour l’Islande, tout comme la nomination d’une femme, Johanna Sigurdardottir, au poste de Premier ministre.

Très vite, le nouveau gouvernement se trouve face à un problème épineux : le règlement aux Pays-Bas et au Royaume-Uni d’une dette de 3,5 milliards d’euros suite à la faillite d’Icesave, banque en ligne dont les opérations étaient tournées principalement vers ces deux pays. Sous la pression de l’Union européenne, à laquelle les sociaux-démocrates souhaiteraient adhérer, le gouvernement fait voter en janvier 2010 une loi autorisant ce remboursement, ce qui reviendrait, pour chaque Islandais, à débourser pendant huit ans une somme d’environ 100 euros par mois. Mais le président de la République refuse de ratifier la loi, dont le texte est alors soumis à un référendum. À plus de 93%, les Islandais votent contre le remboursement de la dette (6 mars), et depuis le problème reste en suspens.

C’est dans ce contexte que l’Islande décide de modifier sa constitution, qui en fait n’a jamais été vraiment rédigée : lorsqu’en 1944 la république avait été proclamée, on s’était contenté de recopier dans les grandes lignes la constitution du Danemark, pays dont l’Islande dépendait depuis plusieurs décennies, en remplaçant simplement le terme de “roi” par celui de “président de la République”. C’est donc une nouvelle constitution qu’il s’agit d’écrire entièrement, et pour cela on a décidé de faire confiance au peuple souverain. Il y a eu d’abord un appel à candidatures (tout le monde pouvait se présenter à l’exception des élus nationaux, à condition d’avoir dix-huit ans révolus et d’être soutenu par au moins trente personnes) auquel ont répondu 522 citoyennes et citoyens. C’est parmi eux qu’ont été élus les 25 constituants.

Ces derniers commenceront à se réunir à la mi-février et rendront leur copie avant l’été. Parmi les propositions qui reviennent le plus souvent, on peut noter la séparation de l’Église et de l’État, la nationalisation de l’ensemble des ressources naturelles et une séparation claire des pouvoirs exécutif et législatif.
Certes, l’Islande n’est qu’un petit pays d’environ 320 000 habitants. Elle donne cependant là une belle leçon de démocratie aux grands États dont la France : songeons que, dans notre pays, la réforme constitutionnelle de 2008 a été entièrement rédigée à l’Élysée, et que les parlementaires ne l’ont adoptée qu’à deux voix près après avoir été soumis pendant des semaines à des pressions intolérables de la part du chef de l’État.

[Source : truks en vracs ; CADTM]

Os privilégios do boy Vara

http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/armando-vara-centro-de-saude-doentes-lisboa-tvi24-polemica/1234190-4071.html

sábado, 12 de março de 2011

12/Março/2011, 23H - E agora? (uma perspectiva pessoal)

Que pensar das manifestações de hoje em todo o país? Acompanhei ao vivo a de Lisboa e, na TV, o que deu das outras.

O que é que me impressionou na de Lisboa?

- o número espantosos de manifestantes e outros simpatizantes. Não sei se seriam exactamente os 200.000 reivindicados - mas eram muitos!

- o facto de que havia pessoas de todas as gerações - dos 5 aos 75 via-se de tudo - uns por solidariedade; outros porque também estão "à rasca"...

- o facto de que, pese embora a tentativa de aproveitamento de algumas juventudes partidárias e de alguns arruaceiros - a manifestação se manteve, no essencial, apolítica e ordeira.

- o ter sido uma lufada de ar fresco num país que parece conformado a ser governado (e roubado) agora por uns, e depois pelos que com eles "alternam", todos vampiros e sanguessugas (e o Zeca ao longe - na minha imaginação - "eles comem tudo, eles comem tudo...")

O que não gostei:

- a falta de organização?

Via Facebook - e mesmo mantendo de fora os partidos e centrais sindicais - não teria sido possível obter o apoio de quem tenha organizado manifestações - por exemplo, antes do 25 de Abril - e pudesse dar umas dicas? e de bandas de garagem, que tenham aparelhagens sonoras decentes - em vez de megafones comprados no chinês? e de quem soubesse montar um palanque onde os organizadores, e quem mais quisesse, pudesse falar (ou cantar) aos presentes?

Não era possível ter pensado em meia dúzia de refrães e de cantigas, que se divulgassem, ouvissem e conhecessem antes, e que as pessoas pudessem gritar ou cantar em uníssono?

Assim, a manifestação acabou por ir desmobilizando progressivamente, por falta de continuidade, e o que se viu foi um montão de folhas A4 entregues aos organizadores (mas não teria sido possível isso ser enviado por e-mail e ficarem registos digitais, que seria mais fácil tratar?)

- o ar sorumbático e a "falta de alma" e de convicção e alegria dos manifestantes. Percebo o "enrascanso", mas não a falta de convicção. Afinal as pessoas foram a uma manifestação apenas para mostrar a sua tristeza ou para tentar mudar alguma coisa?

Que fazer de seguida?

Ninguém nasce ensinado e o "caminho faz-se caminhando". Portanto, acho indispensável:

- que os organizadores alarguem o círculo de decisão e oiçam outros com maior experiência - e não estou a falar de partidos ou sindicatos, mas de pessoas individuais e movimentos de cidadãos, que estão desafectadas do sistema político, da "democracia representativa" (em verdade, pseudo-democracia, pois a justiça não funciona, nem é independente , e a independência dos media deixa muito a desejar, para já não falar das "entidades reguladoras" disto e daquilo, que são apenas lugares para os boys já grandinhos, e não controlam nada) não havendo pois quem controle o sistema e a roubalheira que à sombra dele se faz, começando, desde logo, dos lugares mais altos);

- que se tirem lições do que correu bem e do que correu mal e se melhore o que possa ser melhorado;

- que se alargue o movimento a um "país à beira do abismo" em vez de uma "geração à rasca".

- que se organize outra vaga de manifestações em todo o país, num prazo o mais curto possível, mas respeitando as regras legais. De hoje a 8 dias, dia 19, se possível.

- que se mantenha o carácter apartidário e pacífico, mas se perceba que a intervenção é política, no sentido em que pretende denunciar e mudar o actual estado de coisas.

- que se comece a pensar em quais deverão ser os contornos ainda apenas preliminares e em esboço, da democracia participativa que se pretende, vendo, nomeadamente, que tipos de soluções estão a ser adoptadas em países que estão a sair da crise, fazendo-a recair sobre quem tem mais dinheiro e bens (cá ou em offshore), em vez de sobre quem tem menos.

Nota: Haveria muito mais a dizer mas, como disse antes, "o caminho faz-se caminhado". Em qualquer caso, há neste blog algumas outras reflexões sobre o nosso sistema político e económico, sobre que valeria a pena meditar. Fi-lo (ao blog) "just in case", mas talvez agora possa ser útil.

terça-feira, 8 de março de 2011

As revoltas nos países do Magreb e o 12/Março

1. A reacção do ocidente aos processo de revolução na Tunísia e no Egipto, primeiro, e agora na Líbia, tem sido contraditória. Por um lado, os manifestantes revoltosos derrubaram as ditaduras dos dois primeiros países e apregoam valores democráticos. Mas, por outro, o exemplo do Irão, onde o derrube do ditador conduziu a um regime fundamentalista, conduz ao receio de que o fundamentalismo possa vir a apossar-se desses países. Interpretam-se, a essa luz, sinais que não podem deixar de ser considerados preocupantes - os revoltosos de ambos os países, ajoelhavam-se à hora das orações, como uma massa humana sem descontinuidades - portanto, não havia entre os revoltosos nem cristãos, nem ateus, apenas maometanos - o que implica falta de liberdade religiosa - mas também havia uma clara aceitação de uma religião que descrimina as mulheres (não há pois igualdade de género).

Essa contradição de interpretações nos países ocidentais - e mesmo mundiais - manifestou-se, no caso da Tunísia e Egipto, em que os ditadores saíram pelo seu pé, quando perderam o apoio dos respectivos exércitos, apenas nos comentários que se ouviam ou liam; mas no caso do Líbia, assiste-se a um verdadeiro genocídio sem que haja qualquer tentativa atempada, por parte do mundo ocidental, para lhe pôr fim e com a nomeação de um país até aqui amigo da Líbia (Portugal), para presidir à Comissão de controle das sanções da ONU.

2. Uma pequena revisão da história parece útil. É normalmente considerado que o modelo de democracia em que hoje vivemos no Ocidente, começou com a Revolução Francesa, de 1789, que também inspirou a Revolução Americana. O facto de que os países vivem períodos de "evolução" na continuidade de um certo regime, alternando com períodos de "Revolução", que mudam o sistema e fazem tábua rasa e põe fim abrupto aos privilégios ilegitimamente detidos por alguns (períodos revolucionários) é também geralmente aceite - e até aplicado, por extensão, à própria evolução da ciência, por Khun, num livro muito citado ("The Structure of Scientific Revolutions", de 1962), mas pouco lido, e pior compreendido.
O que raramente se refere é que durante dois séculos, depois da Revolução Francesa, este país não viveu em democracia, que o voto das mulheres só foi estabelecido em 1906, e que uma verdadeira democracia, como hoje a entendemos, só foi estabelecida com a Constituição de 1958, quase dois séculos depois de 1789.

3. Também pouco se refere que a "Democracia Representativa" não impede, só por si, os privilégios e a corrupção, antes sendo, nalguns casos, uma "democracia aparente", pois o poder "alterna" entre partidos tão semelhantes que, em verdade, se confundem e representam sempre os interesses dos mesmos poderes económicos, apenas "alternando" quem recebe mais privilégios, mordomias e receitas da corrupção num certo período, com inteiro desprezo pelo povo que, com os seus impostos, sustenta esta voragem e que, em cada processo eleitoral, apenas "escolhe os representantes da classe dominante que o vão explorar no próximo período" (uma citação, que por acaso é de Marx - o qual também deveria ser repensado à luz de Khun, mas isso fica para outra ocasião). Podia-se pois também chamar uma "democracia de alterne".

4. Essa pseudo-democracia que é, na verdade, uma oligarquia do "centrão", que tem destruído o país, e o tem endividado, com juros que serão ainda pagos pelos nossos trisnetos, é tão evidente que, há alguns anos, o próprio Mário Soares disse que com a situação existente em Portugal, só não haveria uma revolução por Portugal pertencer à UE. Colocava, aliás, outra questão crucial - se as revoluções são essenciais para o processo histórico, com o desarmamento da população, um exército profissionalizado e já não baseado em todos os cidadãos por recrutamento, e a pertença a uma união alargada (em que é hoje evidente que a Alemanha domina a seu belo prazer, conseguindo assim, pela paz, o que não tinha conseguido em duas guerras mundiais por que foi responsável) as revoluções eram cada vez mais difíceis de concretizar.

5. Voltando às revoltas no Magreb, um artigo do Público dá do processo uma perspectiva diferente e que pode ser muito inspiradora. No Público de Domingo, um curioso artigo de Sofia Lorena ("Como as revoltas árabes mataram a narrativa da Al-Qaeda") dá uma perspectiva diferente dessas revoltas, mostrando que elas foram conduzidas "sob slogans heréticos para os jihadistas" e mostra que em mais de 20 anos a Al-Qaeda foi incapaz de "desestabilizar" essas ditaduras amigas do ocidente" (e que este apoiava declaradamente), mas que tais regimes foram "derrubados em poucas semanas por manifestantes desarmados".

Independentemente da importância que isso pode ter para a democratização dos países árabes - que, necessariamente, passará por décadas até se poder chamar "democrático", no sentido ocidental, mas pode vir no caminho certo, não é de excluir que essas reformas se possam estender a outros países, quer na África subsariana - e Angola seria um bom candidato! - quer na Europa - onde Portugal é o candidato ideal, quer pela situação de crise pela qual todos os actuais partidos são responsáveis, quer porque a ocupação árabe, durante séculos, deixou cá não apenas um fundo genético, mas alguns aspectos culturais - quer noutros locais. Aliás, os árabes deram à cultura ocidental elementos fundamentais, começando desde logo pela numeração árabe. Porque não hão-de dar agora um modelo de como fazer revoluções em sociedades asfixiadas, por esta imagem de que a democracia representativa é boa e os partidos indispensáveis, quando todos percebemos que elas são boas para o capital e os militantes desses partidos, mas não para o povo. E que "grupos de cidadãos" podem mudar as regras do jogo.

6. No Público de ontem, uma crónica de Rui Tavares, que nunca se referia ao Magreb, mas apenas à manifestação de 12/Março, sugeria que o processo desta manifestação ultrapassava o dilema "reformas versus revolução" e sugeria que esses movimentos eram "reformulacionários" , pois não pretendiam tomar o poder mas "alterar as regras do jogo" e acrescenta: "E como fazê-lo? Fazendo. Mais do que nas tácticas, os reformulacionários estão essencialmente interessados nos princípios. Não sabemos para onde vamos, mas queremos dar o primeiro passo de forma certa. E depois o segundo". Recomendo a leitura completa, que não vou resumir aqui. Curiosamente "reformular as regras do jogo" é a principal coisa que resulta de qualquer revolução social ou de qualquer revolução científica. Khun chamar-lhe-ia uma "mudança de paradigma".

7. É isso que espero da manifestação de 12/Março, que contribua, modestamente talvez, eventualmente de forma crescente, para uma "mudança de paradigma", que os partidos (todos) se mostram incapazes de fazer. Acho que é por isso que uma questão aberta, salvo erro, no site do movimento, tem tido tão poucas respostas. A que se refere a "O que fazer no dia seguinte?". É que a resposta a essa questão, numa perspectiva de "reformulação", não pode ser dada hoje. Terá de se ver o que acontece em todo o país no dia 12 e, depois, mas rapidamente, pensar qual é o próximo passo.

sábado, 5 de março de 2011

A Manifestação de 12 de Março de 2011

Quero começar com uma declaração clara: vou participar nesta manifestação (o que em mim é uma raridade, porque não gosto de multidões...)

Esta manifestação parece-me um acto de "cidadania activa", num país que nunca teve hábitos, nem cultura, de vida cívica - o que foi ainda prejudicado, primeiro por 40 anos de fascismo, e depois pelo facto de que esta pseudo-democracia, em que vivemos desde então, ter conseguido, em poucos anos, com que os cidadãos se afastem cada vez mais da "coisa pública" e das eleições pois, de forma mais ou menos consciente, percebem que o que se discute em cada eleição (seja ela presidencial, legislativa, autárquica ou europeia) é apenas a quem vão ser dados mais privilégios, no período seguinte, para roubar os portugueses (principalmente os pobres), para se locupletarem com mordomias, e para as distribuírem pelos boys (e girls) amigo(as), para fazerem favores chorudos (e por vezes logo bem retribuídos...) aos amigos políticos e aos "amigos do dinheiro" - e permitem aos "vencidos" irem agora ocupar lugares de chefias bem pagas em Administrações de empresas privadas a que prestaram "serviços" enquanto governantes (ou de quem se esperam agora tais serviços), ou em empresa públicas (nacionais ou camarárias) conduzindo a uma distância cada vez maior entre os rendimentos dos ricos e o dos pobres.

Por tudo isto, repito, vou participar na manifestação.

Dito isto, detesto o nome sob o qual a manifestação é convocada - "Geração à Rasca" - principalmente por três razões. A primeira, porque é inestética; a segunda, porque é errónea; e a terceira, porque, por força das duas anteriores, é auto-limitativa.

O ser inestético (como era inestético e ofensivo falar de "geração rasca", ou, mais recentemente de "geração parva") não é uma questão menor, pois revela falta de gosto, e quem não consegue ter bom gosto na escolha de uma sigla, normalmente pensa mal. Como se prova de seguida.

Mais grave, é o facto de que tal designação é errónea e auto-centrada. A geração que tem hoje cerca de 30 anos e que vive na precariedade, com ou sem recibos verdes (em particular os falsos) vive evidentemente em grandes dificuldades.

Mas a geração que tem 40 ou 50, e que está desempregada, e já não consegue arranjar emprego, ou o consegue por salários de miséria, precisamente porque o desemprego e a precariedade a obrigam a aceitar condições por vezes abaixo do salário mínimo (que aliás é quase três vezes mais baixo do que de França - 1320€ -, Bélgica e Irlanda, para já nem referir o Luxemburgo - 1640€), ou vive no pavor do desemprego, ou viu recentemente cortados os seus proventos e receia que a coisa piore, para já não referir a geração de reformados, em que a maioria tem pensões de miséria e vive situações de dificuldade extrema.

Em suma, não é uma certa geração que se auto-atribui (erroneamente, mas isso é outra questão) a designação de "a geração mais bem formada que Portugal alguma vez teve" que vive "à rasca" - é todo o país (ou 90% dos habitantes dele) que vive "à rasca" - perdoe-se-me a deselegância da expressão - para que os gestores de empresas privadas e públicas tenham salários e prémios escandalosos e para que, quando hoje se fala em aumentar a idade da reforma para os 67 anos, os deputados, há muito que auto-atribuíram a si próprios, bem como a outros titulares de cargos políticos, (não apenas viagens de avião em primeira classe - aliás até há bem pouco "convertíveis em duas viagens) mas (também) reformas ao fim de 12 anos. Também muitas empresas públicas e privadas fazem reformas ou pré-reformas a partir dos 50 ou 55 anos, e o Banco de Portugal reformou, há uns anos, pessoas com 40 anos (que, todas essas, vêem para o mercado de trabalho concorrer com outros, mas podendo aceitar salários mais baixos e, com isso, diminuindo os salários dos restantes). E o CA do mesmo Banco de Portugal atribuiu a si próprio e a outros altos dirigentes reformas chorudas, e acumuláveis com outras ou com trabalho remunerado, havendo mesmo um político cuja soma de duas reformas públicas acumuláveis é tão maior que o salário de Presidente da República que - mas apenas depois de forçado - prescindiu deste.... (Duas reformas públicas por inteiro presume, em contas redondas, que o Sr. tenha 110 anos ou que tenha conseguido trabalhar 16H por dia durante 40 anos...).

Ora, que haja uma certa geração que pense que só ela vive á rasca é muito mau sinal, porque revela que ignora, ou nem quer ver, as dificuldades dos seus concidadãos de outras idades. E se não vê isso, como esperar dela que possa encontrar soluções que resolvam o problema de todos, pois só assim poderão resolver o seu? O problema é sistémico e o "sistema" não se restringe a essa geração, nem às outras que vivem à rasca". Só tem solução quando se perceber para onde vai o dinheiro que faz 90% do país viver "à rasca" e se encontrar forma de acabar com tal vergonha. E quando se perceber que foi ilegítimo muito do que se legislou ou regulou e, portanto, mesmo que não seja formalmente anti-constitucional, deve ser declarado nulo e sem valor, e isso com efeitos retroactivos.


Mas essa designação tem ainda como consequência que muitos dos que têm razões de queixa do sistema, mas não pertencem à referida geração, nem se sentem talvez tão "qualificados", pensem que "isto não é comigo", quando poderiam engrossar a manifestação, trazendo com eles uma experiência de vida e uma cultura que esta geração tão "bem formada" não tem.

Mas, mesmo assim, com uma designação deselegante, errónea e infeliz, é um movimento cívico activo e isso, sendo uma raridade em Portugal, só por isso já é salutar, e merece não apenas solidariedade distante, mas apoio activo, digo, apoio presente e participativo.

Uma nota final: que os promotores da manifestação não percebem mesmo o "sistema global" que provoca a sua precariedade, prova-o, além do já argumentado, esta ideia peregrina de convidarem para a mesma - segundo julgo ter percebido - dirigentes de partidos políticos. O que é estranho numa manifestação que se presumia "apartidária"... Ora, se é certo o conúbio entre os partidos do "centrão" que têm "alternado" no poder a nível nacional é o maior problema do actual sistema político português, são raros os que, na esquerda, não têm comportamento similar nos pequenos feudos (em geral autárquicos) em que penetram. E isso vai desde os que gostariam de copiar os Gulags que o comunismo criou onde dominou (em nome, bem entendido dos melhores princípios de "defesa dos mais fracos") até à esquerda que fala bem, veste Lacoste e celebra com whisky...

sexta-feira, 4 de março de 2011

Interrupção e recomeço - Explicação breve

Como disse quando iniciei este Blog (ver http://resprivata.blogspot.com/2009/04/um-blog-para-que-e-porque-agora.html), não sou um Blogger, não tenho gosto por Blogs, nem tempo, nem paciência, para os seguir.

E iniciei este com um Propósito preciso que então expliquei (ver http://resprivata.blogspot.com/2009/05/proposito.html), mas sabendo que a pressão das "coisas para fazer", para procurar "ganhar o pão de cada dia", não me daria tempo para o fazer com continuidade. Está pois explicado porque houve neste blog um longo hiato.

Mas há agora duas razões que levam a que procure retomá-lo, pelo menos por alguns dias e episodicamente:
- a crise do Magrebe
- a Manifestação marcada para 12 de Março de 2011, em várias cidades portuguesas.

Pese embora a, por certo, maior importância da primeira questão, no que se refere a uma potencial "mudança civilizacional" (para melhor?), e a semelhança curiosa de, tal como a segunda, ser dinamizada principalmente nas rede sociais, começarei pela segunda, por o seu eventual "prazo de validade" ser menor - ou se fala dela agora ou, depois, pode ser demasiado tarde para ter algum efeito prático.