domingo, 3 de abril de 2011

Que fazer face às próximas eleições?

Nota: Reprodução de um post colocado nas "Discussões" no "Forum das Gerações"

Sei que já há um tópico sobre "Voto em Branco" e apelos a "votar nos pequenos partidos", e outros, mas gostava de introduzir uma questão mais geral e uma perspectiva diferente. Pedia-vos o favor de me acompanharam num raciocínio um bocadinho mais complexo.

1. Porquê eleições antecipadas?

1.1. PS e PSD tinham-se unido no PEC 3. Quem foi responsável por provocar eleições antecipadas pouco tempo depois? Em primeiro lugar o PS, ao negociar lá fora, sem informar o PR e o maior partido da oposição. Em 2º lugar, o PR com o discurso que fez na posse. Em terceiro lugar, todos os restantes partidos que chumbaram o PEC4, numa "coligação contra-natura": PSD, CDS, PC+PEV e BE. Já pensaram porque é que TODOS se juntaram nesta ideia de provocar "eleições antecipadas"?

1.2. Pode haver várias hipóteses e não vou analisar todas. Vou apenas sugerir uma que ainda não vi referida. Porque entre o PEC 3 e o PEC 4 se deram três fenómenos: a revolução na Islândia, as revoltas no Magreb e, em Portugal, a manif. de 12/3! E porque essa Manif não acabou com a entrega de inúteis folhas A4 à maior eminência parda do regime (o Presidente da AR), antes se continuou com este "Forum das Gerações" e com reuniões regionais e nacionais do movimento. Porque os políticos sabem melhor que nós que um movimento deste tipo precisa de tempo para emergir e, se lhe for dado tempo, pode criar uma situação que os ponha em causa.

1.3. Portanto, admitam apenas como hipótese, este motivo (que por acaso, a mim, me parece o verdadeiro): provocaram-se eleições aceleradas para não dar tempo a que um movimento em favor de uma "democracia participativa" e "contra o sistema", "concebido" no 12/3, tivesse tempo para se desenvolver, emergir e se consolidar. Portanto, para o forçar a "abortar" antes do seu tempo necessário de gestação.

1.4. Se isto for assim, então a nossa resposta às eleições deve ser: ou não fazer nada e continuarmos calmamente o desenvolvimento do movimento; ou elaborarmos um "programa mínimo" contra as mordomias, a corrupção e os privilégios dos titulares de cargos partidos (incluindo acabar JÁ, e com efeito imediato, com as reformas de políticos e gestores públicos antes dos 65 anos, por ilegítimas e contrárias ao que se aplica a todos os outros cidadãos) e apresentá-lo a todos os partidos, exigindo que se pronunciem sobre ele. Em qualquer caso, dar liberdade a cada pessoa para fazer o que achar melhor nas eleições.

2. Que significam as várias atitudes eleitorais?

2.1. Quando de olham para as estatísticas de eleições passadas, que números é que são mencionados? Apenas as percentagens de cada partido (ignorados os votos brancos e nulos!!!) e a percentagem da abstenção.

2.2. O que é que mais assusta as democracias representativas europeias? O crescimento da percentagem das abstenções! Porque, se é certo que entre quem não vota há alguns que é só por preguiça, há muitos outros que não votam PORQUE JÁ NÃO ACREDITAM NO ACTUAL SISTEMA. Muitos desses estiveram na manifestação de 12/3, precisamente porque esta se afirmou "apartidária", e admitiram que dali pudesse vir a nascer uma ALTERNATIVA AO SISTEMA.

2.3. Que este é o grande receio das "democracias" prova-o o facto de que o PR e o Presidente da CNE fazem antes das eleições apelos ao voto: "votem em quem quiserem, ou votem em branco, mas por favor vão às urnas votar!". O mesmo apelo é feito pelos lideres dos partidos: "mesmo que votem contra nós, votem!" A razão para isto é simples, e é esta: todos os que, no dia das eleições, se juntarem à carneirada e forem meter um boletim na urna estão a dizer que AINDA ACREDITAM NO SISTEMA!

3. Então e as várias alternativas de apelo ao voto que estão a ser feitas neste forum?

Analisemo-las uma a uma.

3.1. Votar em branco: não serve para nada! É o mesmo que um voto nulo (por exemplo: por engano, a pessoa mete duas cruzes). No dia das eleições são mencionados - passados dois meses já ninguém se lembra! É como a seguir a um jogo de futebol dizer-se que a equipa que perdeu por 2-1 teve 21 cantos a seu favor e a outra só teve 2 cantos a seu favor. Isso recorda-se durante três dias, mas, depois, o que passa para as estatísticas é o resultado final: 2-1, a favor da equipa que menos atacou.

3.2. Votar nos partidos minoritários com representação parlamentar. Pode aumentar ligeiramente os seus resultados eleitorais e número de deputados, mas esses também já são "partidos metidos no sistema", com direito às mesmas mordomias (incluindo reformas antecipadíssimas e viagens), que continuarão a ser altamente minoritários e, não sei se querem, mas, mesmo que quisessem, não poderiam "mudar de sistema".

3.3 Votar nos partidos que nunca elegeram deputados. Vão ser em geral "votos perdidos". Eventualmente, e apenas em Lisboa, poderia eleger-se no máximo um deputado de um deles. Mas os seus programas são no mínimo confusos e no máximo reaccionários.

3.4. É que as eleições - e nunca vi isto referido, mas é essencial - são regidas pelo método de Hondt, de base distrital , o qual existe para facilitar a formação de maiorias e penaliza fortemente os pequenos partidos em favor dos grandes.

4. Em conclusão

4.1. Este país não precisa de uma "democracia representativa melhor"; precisa de acabar com a democracia representativa e substitui-la por uma democracia participativa!

4.2. Mas a conjugação de esforços, para configurar o modelo que se pretende e ir ganhando força para o impor, leva tempo.

4.3. Enquanto discutimos o que fazer nas eleições, estamos a perder tempo para fazer isso e a canalizar esforços para um objectivo inútil.

4.4. E os que estão a apelar para "irmos às urnas" estão a, entre nós, fazer o mesmo exacto discurso que o PR e o Presidente da CNE farão no dia anterior às eleições para todo o país: votem em quem quiserem, mas vão ás urnas votar", porque ir às urnas votar (mesmo que em branco) é afirmar que se acredita que o sistema se muda pelo voto!).

4.5. E não muda, pois todo o sistema está "viciado", para facilitar maiorias e permitir a "alternância democrática", digo, a alternância entre os que nos vão roubar no período seguinte...

4.6. As diferenças entre este movimento e e todos os anteriores são duas. O povo português, em especial os mais pobres, mas actualmente também as classe médias, estão a ficar numa situação que cada dia se torna mais insustentável e, entretanto, houve o 12/3 e, principalmente, o que a ele se seguiu. Ninguém nos perdoaria se deixássemos escapar esta oportunidade de voltar aos ideias esquecidos, que eram os do 25/Abril.

4.6. Acho pois que uma anti-manifestação no 25/Abril, desde que seja "pacífica e apartidária", e, já agora, "sem barulhos excessivos" poderia ser positiva. Todos vestidos de preto e em silêncio - em suma uma representação do "enterro do 25/Abril" - que os partidos já fizeram há muito, mas que pode agora ser "recordado". E ninguém vai para os enterros com vuvuzelas ou a bater tachos. Isso é no Carnaval!

4.7. E, entretanto, acelerar os trabalhos dos grupos regionais e nacionais.

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