quarta-feira, 16 de março de 2011

12/Março - Um balanço 4 dias depois

1. Antes e durante o 12/Março

As manifestações de 12/Março foram convocadas via Internet, através de uma página do Facebook que se destinava a congregar uma auto-denominada "Geração à rasca" (em princípio pessoas entre os 25 e os 35 anos, creio), e que continha uma "Manifesto".

No início não era claro quem convocava a referida manifestação e, depois de três jovens se mostrarem ao público, aparentemente outros foram agregados e ninguém sabe quem orienta as coisas. O que é grave, porque deveria haver porta-vozes nomeados, um endereço de mail de grupo claramente definido para se escrever aos (auto-proclamados) lideres originais e participações individuais dos seus membros nos fóruns, para se perceber quem pensa o quê, pois isso pode vir a ser importante no futuro (já explicarei porquê).

Quanto ao manifesto, como na altura comentei (http://resprivata.blogspot.com/ - post de 5/Março, sobre "A Manifestação de 12/Março") tinha os grandes méritos de ser um sinal claro de protesto num país em todos se queixam em privado, mas não se mobilizam colectivamente, e de afirmar que se tratava de uma manifestação "laica, apartidária e pacífica", e dois grandes deméritos: o título de "Geração à rasca" que é deselegante e mostra, desde logo, que não percebem que está todo o país à rasca, e o auto-afirmar de tal geração como "a mais bem preparada de sempre" - o que nem é verdade, como então expliquei, e, mesmo que fosse, deveria ter sido silenciado.

Creio que os promotores não esperavam a adesão que tiveram e não estavam preparados para a mesma, tendo a manifestação sido "metida no bolso" pelos "Homens da Lata" (ou da Luta, ou lá como é) que, esses, pertencem a outra geração, mas estavam preparados para conduzir uma manifestação. Um comentário de uma das organizadoras, no próprio dia 12, concluía isto mesmo.

No entanto, a leitura dos comentários do Facebook muito antes do dia 12, mostrava que esta oportunidade iria ser aproveitada por pessoas de outras gerações, que tinham os seus motivos (alguns bem mais graves) para se manifestarem em protesto contra o "estado de coisas" nacional (e não só). Era pois claro para mim que a adesão seria maior do que o previsto.

2. E depois do 12/Março

Já antes se notava, mas depois do sucesso da manifestação, passou a ser ainda mais claro, que tal não identificação clara dos promotores tinha consequências graves, como o aparecimento de várias páginas oportunistas, como uma "Manifestação contra José Sócrates" (http://www.facebook.com/home.php?sk=group_202666929750883&ref=ts#!/pages/Manifesta%C3%A7%C3%A3o-Contra-Jos%C3%A9-Socrates/352021872497), ou 7 (sete) páginas convocando manifestações para 19/Novembro (que, prognostico desde já, terão bem menor adesão, e poderão marcar o início da desagregação do movimento).

Um aspecto positivo, foi a criação do "Fórum das Gerações" (http://www.facebook.com/home.php?sk=group_202666929750883&ref=ts#!/forum.das.geracoes), penso que criado pelos organizadores originais - mas nem isso é inequívoco - que tinha o mérito de ser mais englobante e acabar com a "rasca", e o de usar o campo das "discussions", para permitir um diálogo mais organizado.

No entanto, era evidente ontem pelas 12H da manhã, que esse formato também não era o ideal. Uma análise que fiz mostrava que havia 146 tópicos abertos, muitos dos quais se sobrepunham, pelo que sugeri na altura, que se concentrassem esse grupos dispersos e se começasse a pensar noutra modalidade para fazer as discussões.

Aliás, havia já então três foruns abertos, de que apenas o último se sabia por quem...

3. Quando voltei a olhar para o site, cerca das 23H, constatei que havia duas grandes diferenças.

3.1. Por um lado "alguém" tinha "reorganizado" as "discussions", retirando as que não lhes interessavam, e apagando imensos posts que delas constavam, e estavam todas assinadas como a última intervenção ter sido feita por um tal "Vamos lá, 1 Milhão na Avenida da Liberdade pela Regeneração Política ".

Esta atitude de retirar tópicos e posts é de uma extrema prepotência e revela um espírito semelhante ao que, no mesmo dia, o primeiro ministro explicou as suas atitudes na cimeira europeia. "Cabe-me dirigir o país (neste caso, o movimento) e fiz o que achei melhor, sem consultar ninguém". Lindo!

Em consequência, vários posts meus(e de outros) foram apagados e várias mensagens que tinha recebido por mail, relativas a tópicos em que tinha participado e a que outros tinham respondido, iam ter a um endereço que dizia: "o post que procura já não está disponível". Calculo que o mesmo terá acontecido a centenas de outras pessoas. E tópicos fundamentais, como os que propunham reuniões de reflexão, para o próximo Sábado, ou foram apagados (ou não os encontro), talvez porque desviariam pessoas das tais manifestações de 19/Março, que todas se confundem umas com as outras, e já nada as distingue. (Afinal os organizadores iniciais foram, mas já não são, ou ainda são, filiados em certos partidos?)

Este tipo de prepotência, que é aliás bastante similar à dos nossos governantes é inaceitável e revela o tipo de comportamentos "não transparentes" que criticamos no sistema. Num sistema de Web 2.0 os tópicos e posts antigos nuca são apagados. Podem é ser criados outros, alternativos, e logo se vê quais obtém maior adesão.

É necessário que os organizadores se identifiquem pessoalmente para que a crowd possa escolher, entre eles, os que dizem coisas acertadas e os que são responsáveis por este tipo de prepotências.

3.2. já tinha sido criado nas "discussions" (por "Inova Portugal") no "Fórum das Gerações" um tópico virado apenas para os "informáticos(http://www.facebook.com/pages/F%C3%B3rum-das-Gera%C3%A7%C3%B5es-Inform%C3%A1tica/188730051164967#!/topic.php?uid=104757732940015&topic=157). A tal "renovação" criou um grupo autónomo, "Fórum das Gerações - Informática" (http://www.facebook.com/home.php#!/pages/F%C3%B3rum-das-Gera%C3%A7%C3%B5es-Inform%C3%A1tica/188730051164967),que, tendo embora alguns materiais interessantes, parece revelar a intenção dos organizadores de não perderem o protagonismo.

O que se pretendia discutir no primeiro (qual a melhor forma de dar continuidade ao debate) não é aliás semelhante ao do segundo, que se refere às TIC como suporte a uma democracia participativa, nelas apoiada.

Num deles - já nem sei em qual, porque a confusão é grande - já se propunham tecnologias (php, SQL, etc.) sem que antes se tivesse discutido "o que se pretende alcançar?", nesta fase queremos TIC para quê?

E sem se discutir o que são "plataformas colaborativas" e o que é a Web 2.0, onde nada e´apagado, e o prestígio e liderança se ganham ou se perdem pela adesão dos outros e não por decisões unilaterais de "apagar", "reestrutur" e, em suma, "censurar". Disso já tivemos, embora a tal geração mais nova não tenha conhecido...

Ora, como o gato de Cheshire esclareceu Alice, "quando não se sabe para onde se quer ir, qualquer caminho é bom".

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