sábado, 26 de março de 2011

O movimento nascido a 12/Março e as eleições antecipadas

Nas "Discussões no "Forum das Gerações" no Facebook (que em boa hora substituiu a discussão centrada na "Geração à rasca") têm sido marcadas e realizadas reuniões regionais de grupos de várias idades que participaram na manifestação de 12/Março e criado imensas discussões (200 neste momento) sobre os mais variados temas, incluindo várias sobre a crítica da "democracia representativa" (e corrupta) que nos governa, em torno de formas de democracia participativa

Na sequência da crise política actual e da possível realização de eleições antecipadas, foi aberta uma discussão com o tema "Eleições Estão Próximas; Que Faremos?"

Houve um participante que meteu nessa discussão ( e em muitas outras que não tinham nada a ver com o assunto) um post a dizer:

«Não ao voto no Bloco Central! Vamos sanear o parlamento! Se nem o PS nem o PSD tiverem assento parlamentar nas próximas eleições, os ratos abandonam o barco, os partidos ganham humildade e aprendem a temer o voto democrático!
Vamos todos votar, mas em qualquer partido menos no Bloco Central!
»

Respondi a esse post com os seguintes comentários que resumem, a partir do ponto 4, a minha posição sobre o movimento que emergiu do 12/Março e as eleições e que, por falta de tempo para os reelaborar, reproduzo aqui na integra (salvo o nome do spammer que não me parece relevante repetir).

1. Meter o mesmo post em várias discussões, nalgumas onde até pode fazer sentido, como nesta, e noutras onde não faz nenhum (como a discussão sobre a Islândia, para dar só um de muitos exemplos) é SPAM.
2. É utilizar os métodos abusivos dos publicitários e dos "publíticos" (esta mistura de políticos/publicitários que anda por aí) para impor uma ideia.
3. E a ideia é errada e, por estranho que possa parecer, faz o jogo do Bloco Central (e do CDS). Os actuais partidos políticos ditos "de esquerda" têm tido múltiplas oportunidades de ir a votos. Nunca conseguiram grandes votações e, mesmo que cada um deles tivesse agora mais 2%, continuariam a ser minoritários e o voto útil continuava a dar uma maioria relativa a PS ou PSD, que depois fariam alianças entre eles.

4. Na sequência da manifestação de 12/Março, está a começar um "movimento", que passa por múltiplas discussões em grupos regionais, que põe em causa o actual sistema de "democracia representativa" (que é "um sistema pelo qual os eleitores escolhem, de tantos em tantos anos, quem são os representantes das classes dominantes que os vão governar no próximo período") e procura configurar o que pode ser um sistema alternativo, que implique uma "mudança de paradigma civilizacional", e que seja uma verdadeira democracia participativa, em que os eleitos emerjam do povo, e sejam revogáveis a todo o momento, desde que se afastem dos compromissos assumidos, ou comecem a distribuir lugares aos seus boys (que logo aparecem), ou a manter a estreita relação de interesses, mordomias e até corrupção que caracteriza o actual sistema de democracia representativa em (quase) todo o mundo.
5. A emergência desse movimento de mudança civilizacional, que aliás também está a ser tentado de múltiplas formas (na maioria dos casos, formas locais e parcelares) em muitos outros países, leva tempo, como todas as emergências! E pode dar resultados positivos, ou não!
6. Não tenho nenhuma receita milagrosa para o problema, mas penso que se formos a correr tentar fazer coisas que levam tempo, nos arriscamos a falhar e a matar as potencialidades transformativas do movimento.
7. A actual "crise política" (aliás bem menos grave que a crise económico-social em que o país vive) é um epifenómeno no seio do "sistema da democracia representativa". Penso que ela não nos deve afastar do caminho que estamos a singrar.
8. Esse caminho NÃO passa, aliás, por muitas folhas A4 entregues ao Presidente da AR - que faz parte do sistema - e que, por serem muito provavelmente contraditórias entre si, nunca serão "processadas"!
9. Sugiro que continuemos o nosso caminho, com a velocidade possível e adequada. Considero, por exemplo, as conclusões da reunião do Movimento Cívico de Lisboa um óptimo exemplo do percurso a fazer.
10. Se esse caminho der resultados a tempo das eleições, muito bem; se não der, teremos "mais do mesmo" durante algum tempo. Mas se esta situação já dura há 35 nos, não será o durar mais dois ou três que é importante. O importante é que a alternativa quando surgir tenha (1) uma formulação claramente alternativa a TUDO o que se tem feito até aqui e (2) a mais larga adesão do povo.

11. A grande adesão às manifestações de 12/Março não foi tanto o resultado dos "fabulosos 4" (que por acaso eram de Liverpool...); resultou de que a manifestação se afirmou como "apartidária e pacífica" e, portanto, teve ressonância em muitos portugueses, de todas as idades, que estão a ter graves dificuldades devidas à crise económica e começam a já não acreditar no "sistema".
12. Ora essa crise vai-se em qualquer caso - e infelizmente - agravar nos próximos meses, evidenciando perante cada vez mais pessoas, DE TODAS AS IDADES, que o actual sistema está esgotado, mesmo nos países onde ainda existe alguma honestidade dos políticos, quanto mais num em que os políticos querem enriquecer o mais depressa possível, e mesmo a extrema-esquerda veste "roupa de marca".
13. Penso que o movimento que pode emergir daqui precisa de estar consolidado nessa altura e não necessariamente na data em que forem realizadas as eleições.
14. Até lá, às crises do sistema, e às eleições para a AR, eu digo: nada - mas não pretendo vender a minha solução a ninguém; cada um que tome a sua!

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